Quando chegar a Buenos Aires, na tarde de hoje (25), para participar das celebrações do Bicentenário de Independência da República Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrará uma cidade que desde a última sexta-feira (21) celebra nas ruas a sua data nacional e um país que luta para resgatar a credibilidade perante os mercados financeiros mundiais.
Em 2001, a Argentina viveu o pior momento de sua histórica econômica ao decretar a moratória de uma dívida externa calculada em US$ 95 bilhões. Desde então, o país tenta recuperar sua imagem perante credores espalhados pelo mundo.
Há exatamente um mês, o ministro da Economia, Amado Boudou, anunciou que a Argentina estava pronta para continuar com o pagamento de sua dívida externa e tinha um plano para isso. Até abril deste ano, o país ainda devia US$ 20 bilhões em bônus emitidos no chamado "ano da vergonha", ou seja, 2001.
O plano de Boudou consiste no pagamento de um terço desses US$ 20 bilhões, vinculado a um reajuste que será pago caso aconteça o esperado crescimento da economia. Há duas semanas, o ministro da Economia iniciou uma série de viagens pelo mundo em busca de acordos com os credores. Até a semana passada, segundo ele, 48% dos US$ 20 bilhões já estavam refinanciados.
Analistas financeiros internacionais acreditam que não será uma tarefa fácil para o ministro Boudou, e para a Argentina, completar a missão de honrar seus pagamentos pendentes desde 2001, até porque o país ainda tem uma dívida com o Clube de Paris estimada em US$ 6,5 bilhões.
O clube é uma entidade informal pois não possui estatuto jurídico oficializado em convenções internacionais. Criado em 1956, é composto por 19 países desenvolvidos que ajudam financeiramente as nações endividadas. Seu primeiro cliente foi, exatamente, a Argentina. Outro problema do país vizinho é a inflação. Recente estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê para 2010 um índice inflacionário de 20%, quatro vezes maior do que a previsão feita para o Brasil.
Além de todos os problemas financeiros e econômicos que precisa resolver, o governo da presidente Cristina Kirchner vive nas últimas semanas uma crise política iniciada com um confuso caso de grampos telefônicos atribuídos ao prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, integrante do partido de oposição. Ele está sendo investigado por um juiz.
Nesta semana, irritada com as constantes críticas de Macri ao governo, a presidente Cristina Kirchner enviou-lhe uma carta afirmando que não estará presente à reinauguração do Teatro Colón, agora à noite. O teatro é uma obra-prima da arquitetura mundial e um dos melhores do mundo. Esteve em reforma durante três anos, sob responsabilidade de Maurício Macri. Em resposta à presidente, o prefeito confirmou presença no jantar de gala que será oferecido hoje (25), na Casa Rosada, encerrando as comemorações oficiais do bicentenário argentino.
Apesar das dificuldades econômicas e da crise política, milhares de moradores de Buenos Aires e de outras regiões da Argentina participam desde a última sexta-feira das inúmeras celebrações que acontecem na capital e que, nas palavras do chefe de gabinete de Cristina Kirchner, Aníbal Fernandez, não são "uma festa do governo mas de todos os cidadãos argentinos".
Hoje, segundo informações da agência oficial de notícias Telam, Fernandez disse que o governo está realizando um grande esforço para colocar a Argentina "em um lugar sólido, consolidado, reinserida no mundo. A realidade mostra que o caminho escolhido está dando resultados". Sem citar números, o chefe de gabinete afirmou que "a Argentina possui o maior Produto Interno Bruto da América Latina e a mais importante rede de ajuda social da região".
Postar um comentário
Obrigado pela participação.