Especialistas tentam recuperar parte do acervo do Museu Maçônico, do Rio.
Acervo conta a história da Ordem e também do Brasil Império.
Documentos que contam sobre a Maçonaria foram destruídos por traças, cupins e pela má conservação (Foto: Carolina Iskandarian/ G1) |
Há um ano, quando pisou no Museu Maçônico do Palácio do Lavradio, no Centro do Rio, com a incumbência de recuperar o acervo, o restaurador Tércio Gaudêncio não tinha ideia de que seu trabalho seria muito maior. Até hoje, ele revira os sacos de lixo onde foram despejados livros e documentos históricos. A maioria traz informações sobre a Maçonaria e o Brasil Império. Gaudêncio conta que, se não tivesse passado pelo depósito do prédio, não teria esbarrado naquele “tesouro”, que agora passa por restauro em São Paulo.
“Estava tudo em 251 sacos pretos de lixo de cem litros. Sem saber o que tinha dentro, fomos abrindo documento por documento e começamos a descobrir coisas fantásticas”, diz o restaurador em sua oficina, na Zona Sul da capital paulista. Entre os documentos recolhidos, o especialista, dono de uma empresa de restauração, aponta raridades. Ele calcula que trouxe em três caminhões para São Paulo cerca de 17 mil documentos, sete mil livros, 30 gravuras e 13 quadros.
Ruth, Gaudêncio e Ana Maria (de amarelo) mexem em quadro que está sendo restaurado (Foto: Carolina Iskandarian/ G1) |
Uma das raridades é um decreto do rei português D. João VI, datado de junho de 1823, com, entre outras, a seguinte ordem contra os maçons: "todas as sociedades secretas ficam suprimidas (...) e nunca mais poderão ser instauradas". No acervo, há ainda atas de reuniões da Maçonaria no século 19 e documentos sobre a proclamação da independência do Brasil.
Agora bem guardada em uma caixa está uma Bíblia, que, segundo Gaudêncio, é de 1555 e foi escrita em aramaico, grego antigo e latim medieval. “D. Pedro I ganhou quando se casou. Só existem três edições desta no mundo”, afirma ele sobre a raridade. A publicação ficava exposta aos visitantes em uma vitrine, o que não impediu o estrago. “Jogaram a capa original fora e colocaram outra com uma cola muito ruim”, conta Ruth Sprung Tarasan, uma das coordenadoras do trabalho de restauro.
Irregularidades
Marcos José da Silva, o grão-mestre geral do Grande Oriente do Brasil (ao qual estão subordinadas muitas lojas maçônicas no país), admitiu ao G1 que o prédio onde fica o museu não está em boas condições e sofre com infiltrações, cupim e mofo, entre outros problemas. Ele disse não saber por que parte do acervo estava em sacos de lixo e atribuiu à “falta de uma pessoa habilitada” o fato de o material ter sido acondicionado daquela maneira.
Irregularidades
Marcos José da Silva, o grão-mestre geral do Grande Oriente do Brasil (ao qual estão subordinadas muitas lojas maçônicas no país), admitiu ao G1 que o prédio onde fica o museu não está em boas condições e sofre com infiltrações, cupim e mofo, entre outros problemas. Ele disse não saber por que parte do acervo estava em sacos de lixo e atribuiu à “falta de uma pessoa habilitada” o fato de o material ter sido acondicionado daquela maneira.
“É desconhecimento, falta de uma pessoa habilitada. Durante muitos anos o acervo não teve a manutenção devida, verificamos em que estado ele estava e resolvemos enfrentar o desafio”, contou ele, sem revelar quem cuidava do museu e quanto custará o trabalho de restauro das peças e de reforma do prédio. A organização, que tem sede em Brasília, assumiu a direção do local em setembro de 2009.
Documentos são achados em sacos de lixo (Foto: Divulgação/ Tércio Gaudêncio) |
Silva disse preferir acreditar que os livros e documentos históricos não iriam para o lixo. “Acredito que estavam ali para futura apreciação.” As obras começaram em março de 2010 e ele não deu previsão de término.
Da Maçonaria
Por ser maçom e ter muita experiência no ramo, Gaudêncio assumiu a restauração de parte do acervo do Museu Maçônico, o primeiro da categoria na América do Sul. Enquanto ele se debruça sobre livros e papéis destruídos por traças, cupins e mofo, o prédio do museu na capital fluminense passa por reformas.
Por ser maçom e ter muita experiência no ramo, Gaudêncio assumiu a restauração de parte do acervo do Museu Maçônico, o primeiro da categoria na América do Sul. Enquanto ele se debruça sobre livros e papéis destruídos por traças, cupins e mofo, o prédio do museu na capital fluminense passa por reformas.
Parte do material que está sendo recuperada estava nos sacos plásticos pretos. “Ia tudo para o lixo. Dá para imaginar quanta pesquisa a gente podia fazer com isso?”, questiona Ruth, que também é historiadora. “Sou obrigado a ler os documentos e começo a cair de costas porque a história dos livros não é a mesma. Aqui, tenho os originais dos grandes maçons da época. E só quem é da Maçonaria pode mexer nisso”, ressalta Gaudêncio, entusiasmado com o trabalho que teve início em 2010 e que pretende entregar no segundo semestre deste ano.
O processo de restauração inclui encadernar os livros, recuperar o papel destruído e retocar a tinta das palavras. Para garantir a perpetuação do material, Gaudêncio e sua equipe digitalizam o que conseguem salvar. “Já temos 14 mil documentos digitalizados”, diz ele. O G1 esteve no escritório de Gaudêncio e viu quando a restauradora Ana Maria do Prado tentava recuperar a cor original de dois quadros: o do general Osório e do visconde de Sapucaí.
“O desenho tem muito retoque. Muita gente mexeu; o verniz está oxidado”, revela Ana Maria, que põe na ponta do pincel uma tinta especial para restauradores. “Ela é reversível. Sai com qualquer solvente e não ataca a pintura original”, explica. “Hoje em dia, tudo tem que ser reversível. Não se sabe o que vamos achar daqui a 20 anos”, completa Ruth.
“O desenho tem muito retoque. Muita gente mexeu; o verniz está oxidado”, revela Ana Maria, que põe na ponta do pincel uma tinta especial para restauradores. “Ela é reversível. Sai com qualquer solvente e não ataca a pintura original”, explica. “Hoje em dia, tudo tem que ser reversível. Não se sabe o que vamos achar daqui a 20 anos”, completa Ruth.
De acordo com Luiz Alberto Chaves, integrante do Grande Oriente do Brasil em Brasília, o prédio do museu na Rua do Lavradio foi comprado em 1840 e passou por dois anos de reformas. Foi sede da Maçonaria até 1978, quando houve a transferência para Brasília.
Maçonaria e a Independência
Apesar de o imperador D. Pedro I ser da Maçonaria, para a professora de história Miriam Dolhnikoff, da Universidade de São Paulo (USP), ele não foi tão influenciado pelos maçons quando declarou a independência do Brasil em 1822. “A Maçonaria não teve toda essa importância no processo de independência. Ela era um espaço de debate político entre outros espaços”, explica Miriam.
“Ele (D. Pedro I) foi maçom porque na época todos da elite eram”, completa a professora. Segundo ela, a Maçonaria defendia que o Brasil deixasse de ser colônia portuguesa, por isso, as críticas do rei D. João VI ao movimento.
Maçonaria e a Independência
Apesar de o imperador D. Pedro I ser da Maçonaria, para a professora de história Miriam Dolhnikoff, da Universidade de São Paulo (USP), ele não foi tão influenciado pelos maçons quando declarou a independência do Brasil em 1822. “A Maçonaria não teve toda essa importância no processo de independência. Ela era um espaço de debate político entre outros espaços”, explica Miriam.
“Ele (D. Pedro I) foi maçom porque na época todos da elite eram”, completa a professora. Segundo ela, a Maçonaria defendia que o Brasil deixasse de ser colônia portuguesa, por isso, as críticas do rei D. João VI ao movimento.
Gaudêncio mostra gravura que precisa de restauro (Foto: Carolina Iskandarian/ G1) |
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