Autor do bestseller
'McMafia'
faz apanhado de 20 anos e
traça
perfil de ladrões
cibernéticos
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Escrito como uma empolgante
história de suspense, o novo livro do jornalista britânico Misha Glenny revela
ao leitor o mundo obscuro do crime cibernético.
Glenny, filho de um
acadêmico russo, é autor do bestseller McMafia, que descreve o alastramento do
crime transnacional após a desintegração da União Soviética.
No novo trabalho, intitulado
Dark Market: CyberThieves, cyberCops and You, Glenny, ex-repórter da BBC, faz
um passeio pelo universo paralelo habitado por hackers, encontrando toda sorte
de personagens bizarros no percurso.
Em entrevista à Radio 4 da
BBC, Glenny explicou que o título se baseia no nome de um conhecido website, o
darkmarket.com.
"Até ser fechado, no
final de 2008, o darkmarket.com era o principal site em língua inglesa onde
criminosos do mundo inteiro compravam milhares de cartões de crédito clonados,
vários tipos de vírus e cursos sobre como cometer crimes cibernéticos",
disse Glenny.
O livro descreve, entre
outros episódios na história do cybercrime, a primeira Conferência
Internacional Mundial de Carders (carder é o termo inglês para pessoa que
comete fraudes com cartões de crédito), realizado em Odessa, na Ucrânia, em
maio de 2002.
Sem Fronteiras
Cerca de 400 criminosos
cibernéticos de todo o mundo se reuniram na cidade - apropriadamente escolhida
por ser, nas palavras de Glenny, "o reino dos ladrões na antiga União
Soviética" - para um evento exclusivo, somente para convidados.
"Eu fui atrás de alguns
desses personagens", contou Glenny."Eles vêm do mundo inteiro, têm
níveis sociais distintos e pertencem a etnias variadas, mas têm algumas
características em comum".
"A grande maioria, 95%,
é do sexo masculino. Eles têm pouca habilidade em se comunicar e aprendem a
prática do hacking quando têm 13, 14 ou 15 anos, antes de desenvolverem
conceitos morais. O mundo virtual oferece a eles uma maneira de mostrarem seu
talento sem precisarem se relacionar com pessoas".
O livro descreve como os
ladrões cibernéticos se integram às máfias locais, seja na Ucrânia, na América
do Sul ou no Mediterrâneo, mas explica que seus crimes não estão limitados a
regiões geográficas específicas.
Isso torna a máfia russa,
hoje em dia, tão presente na Grã-Bretanha como na Rússia.
"Um crime é ordenado em
Odessa, na Ucrânia, mas acontece em Idaho (Estados Unidos) e o dinheiro é
embolsado em Dubai (Emirados Árabes) ou na Ucrânia", disse Glenny. "Ou
seja, um crime que envolve metade do planeta acontece em um período de 10
minutos e a vítima só fica sabendo muito tempo depois. Ou, em alguns casos,
nunca".
Pacto de Silêncio
Hoje, o crime na rede
movimenta vastas quantias em todo o mundo. Entre suas grandes vítimas estão
seguradoras e bancos - mas poucos falam sobre o assunto, disse Glenny.
"Os bancos estão
preocupados. Não querem que se torne público que são regularmente atacados,
porque se isso chega ao domínio público, a reputação dessas empresas é
prejudicada".
O escritor disse, no
entanto, que os ladrões cibernéticos estão agora investindo em um novo campo:
"Um dos campos onde o
crime cibernético cresce mais é o da espionagem industrial, competição
industrial. Mas não ficamos sabendo sobre o assunto porque as empresas estão
muito assustadas e não querem falar sobre o assunto".
Guerra Cibernética
No esforço de desvendar os
mistérios do crime cibernético, Misha Glenny conheceu e, admite, se encantou
com alguns dos integrantes dessa comunidade particular de ladrões.
"Alguns são muito
divertidos. Eu tenho simpatia em especial por um hacker que trabalhava para a
inteligência militar soviética", disse. "Ele combina habilidade
técnica com consciência política, algo muito raro nesse grupo".
"Tenho simpatia por
eles. Muitos dos meninos mais novos que se envolvem com o crime cibernético têm
dificuldade em se relacionar socialmente e isso é a única coisa que dá a eles a
oportunidade de se afirmar, de sentir que têm algum valor no mundo".
Glenny reconhece, no
entanto, que muitos estão sendo manipulados. "Infelizmente, eles são
manipulados para se envolver no crime". E diz que os riscos associados ao
cybercrime estão crescendo exponencialmente.
"Chegamos a um ponto em
que governos perceberam que precisam fazer algo sobre segurança, porque tudo
está interligado", explicou.
"Quando um país está
sendo atacado, ele não sabe se o ataque é crime cibernético, espionagem
industrial ou um outro Estado querendo atacar a infra estrutura nacional
crítica – suprimento de energia ou de água - de um país".
Um bom exemplo disso ocorreu
em 2007, quando um ataque cibernético causou grandes sustos e transtornos na
Estônia.
Bancos, departamentos do
governo e a mídia nacional tiveram seus sites inundados por spam, fazendo com
que ficassem fora do ar por um longo tempo.
Os autores do ataque nunca
foram encontrados, embora haja suspeitas de que ele tenha partido da Rússia.
"No outro extremo do
crime cibernético está a guerra cibernética. No ano passado, foi criado um
vírus chamado Stuxnet, que atacou as instalações nucleares do Irã".
"Ou seja, um Estado ou
outro colocou no mundo um vírus que pode causar danos profundos à
infraestrutura de um país e isso deu início a uma corrida de armamentos no
mundo cibernético", disse Glenny.
“Hoje, existe um quinto
domínio militar, paralelo à terra, água, ar e espaço. É o primeiro criado
inteiramente pelo homem e tem um comando inteiramente cibernético".
O livro Dark Market:
CyberThieves, cyberCops and You estará disponível em algumas livrarias
brasileiras a partir de outrubro.
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