Brasil contraria temor de ‘recessão
técnica’ e cresce 2,3% em 2013
Paula Adamo Idoeta
Da BBC Brasil em São Paulo
Mercado consumidor amplo ainda anima empresários |
A
economia brasileira cresceu 2,3% em 2013 em relação ao ano anterior,
totalizando R$ 4,84 trilhões (total de riquezas produzidas pelo país), informa
o IBGE.
E,
depois de uma retração no terceiro trimestre do ano passado, o crescimento de
0,7% no último trimestre surpreendeu positivamente e impediu que o Brasil
entrasse em recessão técnica (que acontece quando o país tem seis meses
seguidos de crescimento negativo). Esse era um dos temores do mercado.
E
a indústria, apesar de ter crescido 1,3% ao longo do ano, teve um último
trimestre ruim - retraiu 0,2%.
O
setor que mais cresceu no ano passado foi a agricultura, com expansão de 7%.
O
crescimento total do PIB (Produto Interno Bruto) foi maior do que no ano
anterior - quando a economia avançou 1% -, mas a sequência de anos com
crescimento mais modesto reflete, segundo analistas, um momento de esfriamento
econômico e de maior instabilidade nos mercados emergentes.
Na
última semana, o governo já havia reduzido as perspectivas de crescimento do
PIB brasileiro para este ano – de 3,8% para 2,5%.
Mas
o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou os resultados divulgados nesta
quinta, defendendo que "o crescimento de 2013 foi de qualidade, puxado,
entre outras coisas, pelos investimentos".
Crescimento
do PIB de 2013: 2,3%
Indústria: 1,3%
Agropecuária: 7%
Serviços: 2%
Crescimento do quarto trimestre de 2013: 0,7%
|
A
respeito do resultado pouco expressivo da indústria, o ministro afirmou que o
setor "sofreu por falta de dinamismo do mercado mundial, não apenas do
brasileiro. O setor poderá crescer mais, aumentando as exportações, em razão do
câmbio mais favorável".
Cenários
externo e interno
O
cenário externo desfavorável para emergentes inclui da desaceleração do ritmo
de crescimento da China (que diminui sua compra de matérias-primas de países
como o Brasil) e a recuperação econômica dos EUA, que atrai investidores em
busca de aplicações mais seguros do que os mercados emergentes.
Mas,
para economistas, o Brasil é prejudicado também por questões internas.
O
país começou o ano com um déficit histórico nas transações correntes (que
inclui saldo entre importações e exportações e outras operações de entrada e
saída de capitais): US$ 11,6 bilhões, maior "rombo" desde 1947, o
início da série.
E
alguns analistas criticam também interferências do governo em alguns setores –
como o elétrico e o de combustíveis, para controlar preços – bem como a
política fiscal, como manobras feitas para cumprir a meta de superavit primário
(economia para pagamento dos juros da dívida) de 2012.
E
há, também, o temor de aumento da inflação, o que vem forçando o Banco Central
a elevar a taxa básica de juros. O último aumento ocorreu na noite de
quarta-feira, quando a Selic subiu para 10,75% ao ano.
Para
Marcelo Moura, professor de macroeconomia do Insper, esse cenário despertou uma
incerteza nos investidores, que passaram a enxergar o Brasil como uma economia
frágil – cenário que agora ameaça tirar do país o "grau de
investimento" (chancela, dada por agências de risco, a países considerados
seguros para investidores).
"O
que o Brasil mais precisa é credibilidade. Os fundamentos não mudaram: não perdemos
o crescimento da classe média nem o grande mercado interno", diz à BBC
Brasil. "Mas são necessárias reformas – tributária, previdenciária, e até
mesmo que o Estado priorize melhor seus gastos, para não sufocar a economia com
a carga de impostos tão alta."
Orçamento
Por
isso, foi bem visto por analistas o anúncio, feito por Mantega, de cortes de R$
44 bilhões do Orçamento deste ano do governo – dando indicativos de mais
austeridade ao mercado, para controlar a inflação e evitar o aumento da dívida
pública.
O
ministro fixou a meta do superavit em 1,9% do PIB, que considerou
"realista". Para analistas ouvidos pela agência Reuters, é uma
tentativa de assegurar que ela seja cumprida sem a necessidade de artifícios
contábeis usados previamente.
O
gerente de assuntos internacionais do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), Vinicius Lages, diz que os micro e pequenos
empresários ainda estão otimistas para empreender no Brasil, aproveitando-se do
amplo mercado consumidor interno, que continua aquecido e em expansão em várias
partes do país.
Mas
também cita a necessidade de resolver "problemas estruturais" – baixo
nível educacional, regulação instável, infraestrutura e burocracia - para
melhorar o ambiente de negócios no país. "Isso criaria um ambiente mais
favorável para o setor privado, que precisa investir tanto quanto o
público."
Para
Mori, da FGV, o desafio é também diminuir o peso do setor público sobre a
economia: "É preciso aumentar sua produtividade, fazendo mais sem gastar
mais – ou seja, sem piorar serviços públicos como saúde e educação".
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