Da BBC Brasil
Uma semana após a misteriosa morte do promotor de Justiça Alberto Nisman, a presidente Cristina Kirchner disse, nesta segunda-feira à noite, em rede nacional que não aceitará pressões contra ela e seu governo.
"Não vão me chantagear nem me intimidar, não tenho medo. Que digam o que queiram. Que os juízes me convoquem. Que os promotores me denunciem. E não mudarei um milímetro do que penso", afirmou a presidente.
Quatro dias antes de ter sido encontrado morto no banheiro do apartamento onde morava, em Buenos Aires, Nisman acusou a presidente, seu ministro das Relações Exteriores, Héctor Timerman, e outros colaboradores de um "pacto criminoso" com o governo iraniano do então presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Este acordo, segundo ele, consistiria em acobertar iranianos acusados do atentado ocorrido há quase 21 anos, em 1994, na entidade judaica AMIA, que deixou 85 pessoas mortas na capital argentina.
Em troca do suposto acobertamento, de acordo com o promotor, o governo argentino venderia grãos para o Irã e receberia petróleo. Cristina disse que a denúncia de Nisman é "absurda".
Vestida de branco e sentada em uma cadeira de rodas por ainda estar se recuperando de um problema no tornozelo, ela citou documentos que desmentiriam a acusação.
"Este governo é comprometido com as causas dos direitos humanos. Em que cabeça pode entrar que os primeiros que acusaram a República Islâmica do Irã podem querer agora desviar a investigação do atentado terrorista à AMIA? Não subestimem a inteligência dos argentinos."
"É um absurdo falarem que queríamos vender grãos e comprar petróleo. Os grãos são vendidos por multinacionais. E o petróleo iraniano não nos serve porque não é processado", afirmou.
Cristina costuma se dirigir à população com frequência no rádio e na televisão, mas ainda não havia se pronunciado sobre o caso Nisman.
Novo serviço de inteligência
No discurso de pouco mais de uma hora, a presidente anunciou o fim da Secretaria de Inteligência da Argentina (ex-SIDE, recentemente batizada de SI), apontada por Nisman, por apoiadores do governo e por opositores como parte da trama que envolve a morte do promotor – a Justiça investiga se ele cometeu suicídio ou se foi assassinado.
Cristina afirmou que o serviço de inteligência manteve essencialmente a mesma estrutura que tinha durante o regime militar, que terminou em 1983, e sugeriu que funcionários da SI passavam informações sobre acusações que a secretaria faria a seu governo para a imprensa.
"Integrantes do serviço de informação começaram a bombardear este acordo (entre a Argentina e o Irã). Até o momento só vinham nos acusando de questões patrimoniais que nós mesmos declaramos como corresponde (ao Fisco local). Fizeram todo tipo de denúncia contra esta presidente como nunca ocorreu em tempos democráticos. Falaram em montanhas de dinheiro, em contas secretas no exterior em lugares exóticos. E estas informações partiam de setores do próprio governo."
A presidente disse que enviará ao Congresso Nacional uma proposta para criação da Agência Federal de Inteligência que, segundo ela, teria princípios mais institucionais e rigorosos que a SI.
"Não vão me chantagear nem me intimidar, não tenho medo. Que digam o que queiram. Que os juízes me convoquem. Que os promotores me denunciem. E não mudarei um milímetro do que penso", afirmou a presidente.
Quatro dias antes de ter sido encontrado morto no banheiro do apartamento onde morava, em Buenos Aires, Nisman acusou a presidente, seu ministro das Relações Exteriores, Héctor Timerman, e outros colaboradores de um "pacto criminoso" com o governo iraniano do então presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Este acordo, segundo ele, consistiria em acobertar iranianos acusados do atentado ocorrido há quase 21 anos, em 1994, na entidade judaica AMIA, que deixou 85 pessoas mortas na capital argentina.
Em troca do suposto acobertamento, de acordo com o promotor, o governo argentino venderia grãos para o Irã e receberia petróleo. Cristina disse que a denúncia de Nisman é "absurda".
Vestida de branco e sentada em uma cadeira de rodas por ainda estar se recuperando de um problema no tornozelo, ela citou documentos que desmentiriam a acusação.
"Este governo é comprometido com as causas dos direitos humanos. Em que cabeça pode entrar que os primeiros que acusaram a República Islâmica do Irã podem querer agora desviar a investigação do atentado terrorista à AMIA? Não subestimem a inteligência dos argentinos."
"É um absurdo falarem que queríamos vender grãos e comprar petróleo. Os grãos são vendidos por multinacionais. E o petróleo iraniano não nos serve porque não é processado", afirmou.
Cristina costuma se dirigir à população com frequência no rádio e na televisão, mas ainda não havia se pronunciado sobre o caso Nisman.
Novo serviço de inteligência
No discurso de pouco mais de uma hora, a presidente anunciou o fim da Secretaria de Inteligência da Argentina (ex-SIDE, recentemente batizada de SI), apontada por Nisman, por apoiadores do governo e por opositores como parte da trama que envolve a morte do promotor – a Justiça investiga se ele cometeu suicídio ou se foi assassinado.
Cristina afirmou que o serviço de inteligência manteve essencialmente a mesma estrutura que tinha durante o regime militar, que terminou em 1983, e sugeriu que funcionários da SI passavam informações sobre acusações que a secretaria faria a seu governo para a imprensa.
"Integrantes do serviço de informação começaram a bombardear este acordo (entre a Argentina e o Irã). Até o momento só vinham nos acusando de questões patrimoniais que nós mesmos declaramos como corresponde (ao Fisco local). Fizeram todo tipo de denúncia contra esta presidente como nunca ocorreu em tempos democráticos. Falaram em montanhas de dinheiro, em contas secretas no exterior em lugares exóticos. E estas informações partiam de setores do próprio governo."
A presidente disse que enviará ao Congresso Nacional uma proposta para criação da Agência Federal de Inteligência que, segundo ela, teria princípios mais institucionais e rigorosos que a SI.
Investigação sobre morte de Alberto Nisman ainda não concluiu se foi suicídio ou assassinato |
Acordo com Irã
A presidente afirmou ainda que assinou em 2013 um memorando com o Irã para tentar "tirar da paralisia" a investigação sobre o atentado de 1994. O entendimento foi ratificado pelo Congresso argentino, mas o mesmo não ocorreu com o parlamento iraniano, o que, segundo opositores, teria inviabilizado o acordo.
"Combater a impunidade foi sempre um dos principais pilares do nosso governo. E havia dois símbolos dessa impunidade: o terrorismo de Estado com milhares de desaparecidos políticos e torturados (durante a ditadura 1976-1983) e os dois atentados terroristas, à embaixada de Israel, em 1992, e à AMIA, em 1994", disse.
Ela afirmou que no caso dos crimes da ditadura, diversos responsáveis foram presos e julgados, mas que não há presos pelos atentados.
A partir de 2007, segundo Cristina, o governo passou a denunciar o Irã na ONU. "(Passamos) seis anos denunciando e reclamando à República Islâmica do Irã para que o juiz (na Argentina) pudesse recolher os depoimentos dos acusados (iranianos, pelo atentado à AMIA)", disse.
De acordo com a presidente, o memorando assinado em 2013 com o Irã não previa acobertar os acusados mas acelerar as investigações sobre o caso. "Como ocorre com o Brasil, o Irã também não permite que seus cidadãos sejam extraditados para serem julgados", disse.
Ela disse ainda que um dos denunciados no caso Nisman, que o emprestou a arma responsável por sua morte, teria pedido um passaporte ao Ministério do Interior, mas que o documento foi negado "pelos fatos públicos e notórios, que vocês sabem".
Leia mais: Promotor que acusou Cristina Kirchner é achado morto; entenda o caso
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