Maria Teresa Cruz, editora da Ponte Jornalismo e especialista em segurança, cobra clareza das autoridades
O Brasil parece ter virado de ponta cabeça desde o dia 16 de fevereiro, quando o Governo Temer anunciou a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro para ajudar a conter a crise de segurança pública que tornou a população carioca refém do crime organizado. A chegada de missões do Exército à capital tem sido questionada desde então, até por criar, de forma inédita, uma hierarquia que tira poderes do Governador e a entrega a um general, Walter Souza Braga Netto, que passou a chefiar as polícias militar e civil do Estado, além do Corpo de Bombeiros e a administração das penitenciárias fluminenses.
Muito embora tenha trazido uma sensação de alívio para parte da população, o anúncio feito pelo Governo deixou muitas perguntas em aberto, observa Maria Teresa Cruz, editora do portal Ponte Jornalismo, especializado na cobertura de segurança pública e direitos humanos. “Por que o Rio de Janeiro primeiro, se é o décimo Estado mais violento e não o primeiro? Como vai funcionar a intervenção na prática? É assustador que até agora não saibamos como vai funcionar a intervenção no Rio”, diz ela em entrevista ao EL PAÍS na tarde desta terça-feira, quando o general Braga Netto se reunia para dar pistas à imprensa sobre os planos para o Rio, e o ministro Raul Jungmann se apresentava oficialmente como o novo ministro de Segurança.
Cruz observa que entre o dia do anúncio e este início de semana o país já assistiu a violações legais que tiram confiança dos passos que estão sendo dados na busca de soluções para um problema que se arrasta há décadas no Brasil. “Há, ainda, muitos erros de informação, que não se sabe se é por desconhecimento ou é proposital”, diz ela.
Mais do que tudo, observa, a decisão de intervir no Rio é a prova explícita de como o Estado falhou na garantia de um direito social e constitucional — a segurança, tal qual educação e saúde — e como as pessoas não sabem o que fazer, reforçando a busca por soluções fáceis e por colocar o Exército numa equação que deveria estar sendo resolvida por civis. “A decisão de militarizar demonstra como o Estado falhou”, completa.
A jornalista lembra que diversas ações dessa natureza já foram aplicadas no Rio de Janeiro, sempre como paliativo e nunca se encontra uma solução consistente que efetivamente reduza a criminalidade. Para ela, o Governo está fazendo virar regra o que deveria ser exceção. Cita, por exemplo, a lei de Garantia à Lei e à Ordem (GLO), que dá poderes de polícia ao Exército. Criada em 1992 para a chegada de chefes de Estado durante a Eco 92, foi replicado diversas vezes em eventos internacionais de grande porte. Agora, é avocado novamente para um crise interna, aumentando a discurso do medo que se instalou no país, e fomenta o punitivismo. Clique na imagem acima e confira.
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