A ofensiva do presidente brasileiro na segurança pública será bem recebida pelos eleitores. No entanto, a intervenção no Rio de Janeiro não resolverá os problemas fundamentais, argumenta o jornalista Thomas Milz.
Há três semanas, a imprensa brasileira não conhece outra pauta que não seja a intervenção no Rio de Janeiro. E conforme dito pelo próprio presidente Michel Temer, a ofensiva na segurança pública acabou sendo uma "jogada de mestre". Já são três semanas nas quais não imperam mais as notícias sobre os escândalos de corrupção do governo de Temer e do seu partido, o MDB.
E prontamente brotou no até então impopular presidente a esperança de conseguir alcançar um resultado respeitável nas eleições de outubro. Seu plano de deixar de impor reformas impopulares como a da Previdência em detrimento de temas mais populares, como a segurança pública, parece trazer resultados. De acordo com pesquisas, mais de 80% da população são favoráveis à intervenção.
Temer não pode ser acusado por sua guinada de 180 graus. Afinal, faz parte do repertório da política se abster de reformas impopulares nos meses que antecedem as eleições e mudar para temas populares. No caso de Temer é intrigante, pois até então pouco lhe importavam seus índices de popularidade. E sim, ele até mesmo gostava dos baixos índices – pois, segundo declaração própria, lhe davam carta branca para promover reformas impopulares, mas necessárias.
Mas este não é mais o caso. Já seriam 149 as iniciativas suspensas, incluindo a tão necessária reforma da Previdência. Porque, enquanto uma intervenção federal estiver ativa em um estado, a Constituição brasileira não pode sofrer alterações. A intervenção no Rio de Janeiro deve ocorrer até final de dezembro e, desta forma, não serão mais adotadas reformas pelo governo Temer. Ele deve ter um apreço muito especial pela segurança no Rio de Janeiro, para condenar o Brasil inteiro à paralisação reformista.
No entanto, mesmo três semanas após o início da intervenção, ainda parece não haver um plano claro. O que exatamente devem fazer as unidades estacionadas desde julho no Rio de Janeiro? Onde e quando elas devem ser usadas, e como serão integrados a elas os moradores das favelas? Pode-se ter a impressão de que a intervenção foi anunciada às pressas, sem que houvesse conceito algum. Política profissional parece ser algo bem diferente.
Mas o Rio de Janeiro já vivenciou muitas vezes tais situações em sua história. A reportagem da DW Brasil "Exército no Rio: 25 anos de fracassos" enumera os momentos em que os militares foram convocados para ajudar em meio à crescente violência. E sempre com resultados decepcionantes.
O que não é de se estranhar. Basta abrir livros de história para notar que as questões sociais, incluindo a violência, sempre foram respondidas somente com a mão pesada da repressão. Quase não houve melhorias sociais. E é por isso que, mesmo 130 anos após o fim da escravidão no Brasil, muitos descendentes dos outrora libertados escravos ainda precisam viver nas mesmas circunstâncias precárias. Como uma sociedade pode querer resolver problemas sociais sem uma política social sustentável?
A corrupção dentro da polícia também precisaria finalmente ser abordada. Algo que não ocorrerá no curto prazo, ou seja, até 31 de dezembro, a data do fim da intervenção federal. O tema segurança pública dominará as eleições em outubro, e se Temer conseguir controlar a violência no Rio de Janeiro com a ajuda dos militares, será recompensado nas urnas.
Mas será que a intervenção trará melhorias duradouras, que irão além de 31 de dezembro? A experiência diz que tudo deve ficar na mesmice. A operação do Exército no último fim de semana, na Vila Kennedy, foi emblemática. Depois que centenas de soldados retiraram os bloqueios erguidos pelos narcotraficantes nas vias de acesso à favela no sábado, os militares se retiraram satisfeitos no domingo. Na segunda-feira, os criminosos já haviam reerguido todas as barreiras.
Autor: Thomas Milz
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