Justiça paraguaia declara “em rebeldia” e pede a prisão de Dario Messer e de seu filho, Dan Wolf
Duas semanas depois de ter sua prisão decretada pela Justiça brasileira, uma juíza do Paraguai declarou “em rebeldia” Dario Messer, o chamado doleiro dos doleiros, envolvido direta ou indiretamente nos grandes escândalos de corrupção do Brasil nos últimos anos. Acusados de lavagem de dinheiro, Messer, seu filho Dan Wolf e seu suposto sócio Juan Pablo Jiménez Viveros – primo do presidente do Paraguai, Horacio Cartes –, não compareceram à audiência na quarta-feira, dia 16, em Assunção. Diante disso, a juíza encarregada do caso declarou-os em rebeldia nesta quinta-feira e pediu sua prisão. Segundo cálculos do Ministério Público paraguaio, Messer conseguiu movimentar cerca de 50 milhões de dólares (mais de 180 milhões de reais) no país.
Messer, amigo próximo do presidente paraguaio, instalou-se no país após a eclosão da Lava Jato. O seu pedido de prisão foi deferido pelo juiz Marcelo Bretas em 3 de maio no Rio de Janeiro. Seis dias depois também foi pedida a prisão de seu filho, do primo do presidente Cartes e de Adolfo Enrique Granada, suposto acionista de três empresas que integrariam o esquema de lavagem de dinheiro do doleiro no Paraguai. Granada foi o único a comparecer à audiência de quarta-feira em Assunção. Ele depôs no Ministério Público e foi colocado em prisão domiciliar com uma fiança de 500 milhões de guaranis (330.000 reais).
O escritório da Interpol no Paraguai recebeu em 3 de maio ao meio-dia uma ordem com “difusão vermelha” para capturar Dario Messer. Mas até 20 horas depois a ordem não havia sido cumprida devido à série de trâmites burocráticos previstos pelo Judiciário antes de chegar à Polícia e ao departamento de Imigração. “Recebemos uma difusão vermelha, a mais alta do sistema usado pela Interpol e, assim, comunicamos imediatamente”, disse ao EL PAÍS o comissário Wilson Sánchez, da Interpol no Paraguai. Depois vieram os demais passos, trâmites físicos, telefonemas, ofícios e até mesmo funcionários uniformizados carregando pastas de um lugar para outro, de modo que só às 8 da manhã do dia seguinte um juiz expediu o mandado de prisão. Desde o dia anterior, a imprensa já havia informado que Messer era alvo de uma operação judicial lançada do Brasil.
Quando a polícia entrou na caríssima residência de Messer, no exclusivo Paraná Country Club de Hernandarias, cidade na fronteira do Brasil, não havia ninguém. Apenas alguns computadores e quase nenhum documento útil. Um faxineiro disse que vinha tentando entrar na casa para trabalhar havia dois dias.
María Gricelda Caballero, a juíza que respondeu no dia seguinte ao mandado de prisão urgente de Messer, está sendo investigada no Tribunal de Julgamento de Magistrados (JEM, na sigla em espanhol) por mau desempenho das funções, mas foi ela que decretou, na quinta-feira, a rebeldia dos foragidos.
A Polícia Nacional do Paraguai está investigando Messer e seus supostos cúmplices por lavagem de dinheiro graças a informações e dados recebidos do Brasil, disse o comissário Sánchez. “Não sabemos onde está, mas continuamos com a investigação. Não se sabe se ainda está aqui ou se está em outro país”, disse o policial. Sobre o tempo que a Justiça paraguaia levou para decretar a prisão de Messer, o comissário disse que “muitas vezes a imprensa e as pessoas querem tudo automático, mas é preciso ir preenchendo uma série de requisitos para um juiz ordenar a captura”. “Isso leva tempo e foi tomado como um atraso voluntário, mas não é isso. A polícia e a Justiça agem de acordo com a lei e nós trabalhamos para ajudar nossas contrapartes brasileiras”, disse Sánchez.
O Ministério Público agora quer saber por que a Secretaria de Prevenção à Lavagem de Dinheiro (Seprelad) tinha, desde o ano passado, um relatório de inteligência sobre os movimentos financeiros suspeitos Messer, mas adiou sua entrega até três semanas antes do mandado de prisão.
“O capital do brasileiro é o que estava sendo movimentado ano após ano, mas suas declarações feitas sob juramento não condizem com esses movimentos, é aí que disparam os alarmes”, disse à rádio 780 AM o agente especializado da Unidade de Lavagem de Dinheiro e Financiamento do Ministério Público paraguaio, Hernán Galeano.
O número de transações financeiras que Messer conseguiu fazer no Paraguai ainda é indeterminado, de acordo com o Ministério Público. A maioria de suas transferências foi para o Brasil, os Estados Unidos e paraísos fiscais, bem como operações de câmbio e investimentos em ações. O Ministério Público paraguaio tem um valor inicial estimado de pelo menos 50 milhões de dólares e calcula que Messer tem no mínimo 10 fazendas de gado no país com grande valor econômico, disse o promotor René Fernández à rádio ABC Cardinal.
Nesta quinta-feira se completa um mês desde que a Seprelad levou ao conhecimento do Ministério Público um relatório sobre Messer em que constam movimentos financeiros datados de 2015. No mesmo dia em que o jornal ABC Color publicou as 19 contas bancárias que ele tem ou teve no HSBC da Suíça o homem que o presidente Cartes chamava de “amigo da alma”. O promotor Fernández disse ao jornal que o dinheiro enviado a Messer no Paraguai foi depositado no Banco Nacional de Desenvolvimento (BNF) e no Banco Continental, além de uma empresa de valores mobiliários chamada Casa Puente. Cerca de 40 milhões de dólares vieram de Luxemburgo, entre 2013 e 2017.
O Supremo Tribunal de Justiça do Paraguai, que estava tramitando sua naturalização, anunciou na quinta-feira a interrupção do processo. Mas ao mesmo tempo o Senado, que ameaçava criar uma Comissão de Investigação ao Poder Judiciário e ao Executivo, adiou em oito dias a discussão do assunto.
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