Foto:Neandertal e seu descendente
Há muitas décadas se ruminava a suspeita. Minhas leituras de antropologia, um vício, e o estudo da genealogia, deixavam, como em cientistas engajados na causa, a esperança de um dia poder confrontar finalmente a verdade: éramos de fato uma raça única a sobreviver neste mundo? Havia a divisão da comunidade científica em todo o planeta.
Os pessimistas, ditos realistas, afirmavam categóricos: jamais!
O contingente – para eles – dos Homo Neanderthalensis, haviam tido seu tempo, perderam sua continuidade na adaptação aos desafios da sobrevivência e no domínio da tecnologia.
Os otimistas, tidos como utopistas, debatiam a 'possibilidade', ainda não comprovada, do cruzamento entre as duas espécies de hominídeos. Mas incapazes de comprovar a teoria da união entre as raças “Neandertal e Sapiens”, evitavam a febre do confronto vazio, trabalhavam sobre pistas e na aposta – serena – de que o avanço da genética, dos métodos revolucionários de extração de DNA, um dia daria cabal solução à dúvida.
A resposta veio em doses homeopáticas.
A Reflexão Sobre Uma Possível Fusão Racial: É comprovado que tanto o homo neanderthalensis quanto o homo sapiens foram contemporâneos. Estudos mostram que ambos tiveram um ancestral comum, na África, a cerca de 660 mil anos aproximadamente. Diversos sítios arqueológicos entre a Ásia e a Europa tem demonstrado que ambos personagens viveram próximos e mantiveram algum tipo de relacionamento, cultural, material, competitivo.
Foto: Menino neandertal
O período de 24 mil anos marca o limite para o desaparecimento do homo neanderthalensis. Para os críticos realistas, havia, entre outros pontos, contrários a uma mistura racial entre as duas espécies hominídeas a: “diferença física, pouco atrativa nos brutalizados neandertais”, “inferioridade cultural dos neandertais comparativamente aos sapiens”, “diversidade genética das duas linhagens, o que acarretaria uma improvável capacidade de geração de outro ser ou ao menos a hibridização na descendência dos entes derivados”.
Os pesquisadores otimistas não desacreditaram tais hipóteses, embora as considerasse, a cada descoberta, a fragilidade na sua manutenção. O tempo teria de definir quais lados estaria certo!
- O Primeiro Grande Indício da Fusão Racial:
Ocorreu em 2002, com a descoberta em Santa Eufémia, Leiria, Espanha. Trata-se de um jovem, que vivera há cerca de 25 mil anos, na região da Península Ibérica, cujos traços fisiológicos trazia elementos tanto do homo de neandertal quanto do homo sapiens. O exame do esqueleto mostrou detalhes jamais antes visto em fósseis humanos pré-históricos.
- O Patrimônio Fóssil dos Neandertais:
O acúmulo de vários exemplares coletados, catalogados, alguns com razoável grau de preservação, levando-se em conta que os últimos membros da linhagem hominídea viveram a um tempo não muito remoto – (menos de 30 mil anos atrás) -, pemitiu que ossadas e alguns tecidos preservados dos homo neanderthalensis pudessem ser analisados por biólogos, arqueólogos, médicos, antropólogos e todos os pesquisadores que pudessem contribuir para decifrar o mistério que envolvia a última linhagem racial hominídea extinta que viveu no globo terrestre.
- A Decifração do Genoma do Homo Neanderthalensis: Foto: Neandertal enterrando seus mortos
Em 2006 foi dado o passo fundamental. Uma pesquisa envolvendo vários pesquisadores, liderados pelo Instituto Max Planck, da Alemanha, conseguiu remontar o mapa genético do Homem de Neandertal. A seqüência, feita em 2010, decodificada em 60% do código genético, analisou cerca de 1 bilhão de fragmentos de DNA de diversos ossos de Neandertais encontrados na Croácia, Rússia e Espanha, além do Neandertal original, encontrado na Alemanha. A maior parte da análise se deu sobre 400 mg de pó de osso de três fêmeas que viveram há 38 mil anos onde hoje fica a cidade croata de Vindija.
Os pesquisadores ainda desenvolveram meios de distingui-los dos DNAs de micróbios que viviam nos ossos ao longo de 40 mil anos. O professor Svante Paabo, do Max Planck Institute de Leipzig, está sequenciando o DNA de fósseis de homens de Neandertal que podem comprovar que as duas espécies procriaram entre si. Até agora 4% de material genético oriundo dos Nendertais, foram reconhecidos na linhagem dos Homo Sapiens.
Removendo o Preconceito Racial: Indivíduos realmente feios, grotescos, com estatura média, robustos, ossos grossos, maxilares rústicos, tez branca e ruiva, testa fugidia e cérebro acantonado na parte posterior do crânio, a figura disforme do típico homem da caverna, que saindo da África se locomoveu na Ásia e fixou-se também na Europa, assusta pelo passado que emerge com a real possibilidade de cruzamento com o homo sapiens, o qual até então julgávamos – nós humanos contemporâneos - pertencer.
Sabemos que por deformação física, onde se insere os maxilares, a língua, os crânios dos Neandertais sugerem que sua linguagem, se tiveram, deveria ser algo anasalada, além de primitiva.
Sua tecnologia embora muitíssima inferior a dos homo sapiens, que a cada dia aponta a hipótese de ter sido seu exterminador em guerras por território, há pouco menos de 30 mil anos, orienta pelas últimas pesquisas que não era isenta de criatividade. Ornamentos encontrados nos sítios de Cueva de los Aviones e Cueva Antón, na província de Múrcia, no sudeste da Espanha denotam alto grau de sensibilidade.
Pigmentos de cores amarelo e vermelho, para uso cosmético, a prática da ornamentação corporal amplamente aceita pelos cientistas como evidência conclusiva de comportamento moderno e de pensamento simbólico entre humanos atuais, encontrados pelo grupo liderado pelo português João Zilhão, do Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade de Bristol, no Reino Unido, dão nova visão sobre o intelecto do homo neanderthalensis.
Igualmente se conhece, por fósseis encontrados, que os sepultamentos de indivíduos Neandertais, em posição fetal e com objetos de uso diário, que eles já desenvolviam como os homo sapiens, um sentimentos de religiosidade residual e crença numa imortalidade ou retorno dos entes falecidos.
O próprio ato, quase totalmente provado, de fusão entre os exemplares hominídeos Neandertais e Sapiens, em períodos de 100 a 50 mil anos, pode referendar a conclusão que as “feras” da pré-história não era “irrecusáveis” num primeiro momento em que os sapiens lutavam, em seu baixo núcleo populacional, superar sua própria extinção.
Reflexões Sobre Um Evento: Ao final da pesquisa que já comprovou, na descoberta do milênio, sermos a fusão de duas raças distintas, teremos em curto espaço de tempo de mudar os livros de história e antropologia, definindo o homem atual como “Homo Neanderthalensis Sapiens”, e não mais homo sapiens ou sapiens-sapiens, como nosso egoísmo até recentemente ditava.
A existência de duas raças dentro de um só indivíduos, nos direciona como “mestiços” da Ásia e da África. Isso porque, na pesquisa, denotou-se que na África, onde Europeus ou Asiáticos ainda não fundiram seu DNA com os povos nativos, preservou-se tão somente a linhagem dos “Homo Sapiens”. Dessa forma, temos que reconhecer que o mundo tem não mais apenas uma raça – a humana – mas duas raças humanas, a Africana: Sapiens e a Euro-Asiática-Oceânica- Americana:Neanderthalensis- Sapiens.
A constatação destrói por completo as mentalidades imbecis, como os apelos racistas, eugênicos, pois se assim o fosse, poderíamos desde já nos considerar inferiores aos africanos, que pertencem a linhagem mais evoluída anatomicamente e tecnologicamente dos homo sapiens, e não a mestiçagem de Neandertais com Sapiens como agora sabemos ser derivados nossos avós, principalmente europeus.
Um peso que não cabe, pois tal fato, um capricho da história dos povos e culturas, unicamente nos lega um ambiente mais generoso em mutações e variações genéticas, diversidades culturais, que deu à África povos tão geniais como os egípcios e sua civilização esplêndida que até hoje nos traz revelações incontáveis.
Foto: Tecnologia neandertal
Igualmente, a descoberta, deveria trazer, ao homem ocidental – nos mesmos, Neandertais-Sapiens – o fim do preconceito, o mito anti-científico da superioridade étnica/racial, pois somos o produto de duas linhagens humanas, mestiçadas, aderentes de seus defeitos e ganhos genéticos, e tanto como outros personagens - negros, amarelos, pardos, brancos... semitas, camitas, caucasianos, eurasianos, etc – sejam exemplares da fauna ou da flora, merecem coexistir, harmonicamente, sem materializar meios ou atos que consumem a extinção de quaisquer espécie neste planeta.
Somos todos hóspedes da mãe-terra. O organismo vivo que é o planeta Terra durante bilhões, milhões de anos gerou em seu útero todos os vegetais, insetos, répteis, aves, anfíbios, mamíferos que habitam os ecossistemas. O homem, seja a qual grupo pertencente, apenas é mais um ente vivo deste planeta, composto de elementos minerais , tecidos e partículas encontrados em todo o globo e universo.
Desconhecer tais eventos pode significar a continuidade do irracionalismo e autodestruição que a cada segundo aniquila as espécies e a estrutura da Terra. Precisamos aprender com nossos ancestrais primitivos, nos fundir com o meio em que fomos gerados e não buscar o extermínio de outro, como se fossemos corpos separados entre si e alheios aos contexto do planeta que agoniza.
Compreender isso vai significar a validade da capacidade tecnológica que o homo neanderthalensis e o homo sapiens desenvolveram durante milênios. O contrário será o fracasso de duas raças que, unidas em seu genoma, serão conjuntamente um dia extintas para sempre por força de seus equívocos de civilização tecnológica.
Eloi Angelos Ghio – Cientista Social e Jornalista
10 de Maio de 2010
Parabéns! Você é uma pessoa muito especial, quer no campo do saber, quer no campo da nobreza. Deus o abençoe e seja bem vindo. (Dom Ydenir P. Machado)
ResponderExcluirAl hamidu Lillah é muito bom ter amigos intelectuais, ficamos sabendo primeiro das novidades. E que novidades. Mabruk habib. (Hamza Abdullah Islam Islam)
ResponderExcluirMuito Obrigado querido Irmao e Amigo,Bençaos,++Frederic (Prof.F.P. Burcklé von Aarburg)
ResponderExcluirRealmente um excelente artigo! Parabéns pelo trabalho. forte abraço ao amigo e irmão Eloi Angelos Ghio.
ResponderExcluirOlá, Elói. Parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirSeu trabalho demonstra que ainda temos muito a descobrir e aprender não só com nós mesmos, com os outros e com o nosso planeta; que apesar da evolução da ciência e da tecnologia, a passos largos caminhamos para um estado de incompreensão, incapacidade e porque não dizer de irracionalidade, em não reconhecermos que estamos nos destruindo e destruindo o nosso mundo com o nosso egoísmo e soberba, caractesrísticas da natureza humana.
Gostaria de falar mais, quem sabe numa futura prosa.
Um abraço.
Ismael M. Almeida
Elói.
ResponderExcluirDizer que seria uma surpresa deparar com sua intelectualidade, senso de pesquisa, estudioso,... claro que não.
Adorei ler e aprender através do belíssimo artigo.
Parabéns mesmo !!!!!!!!
E que o Senhor continue lhe iluminando.
Um excelente final de semana.
Sandra Brunow Freitas
ele e meeu professor de historia haha '-'
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