A razão soterra o "senso comum" no entendimento dos fenômenos das relações internacionais.
Nunca é demais lembrar que o mundo nos é contado segundo as lentes de grupos e países dominantes. Se a mentira for sobre o vizinho, logo descobrimos a impertinência. Se for sobre um fato longínquo, uma versão mais precisa foge de nossa alçada.
Assim se cultiva o "senso comum" de que Mahmoud Ahmadinejad é um estadista perigoso, ou Saddam Hussein mereceu cada centímetro da corda que o enforcou por uma justiça ilegítima, ou a Coreia do Norte hospeda um regime insatisfatório que não condiz com a onda democrática.
O impasse reside em ceder à verticalização do mundo imposta pelo modelo euano ou escutar a razão que brada dentro de cada cidadão na capacidade estimada de raciocinar e entender que há muitas outras nações que merecem respeito apesar do dissentimento de EUA.
Em 27 de julho de 1953, assinou-se um armistício que pôs fim à Guerra da Coreia. Deflagrou-se, entre 1950 e 53, um conflito típico de "guerra fria", em que se tentou arregimentar cada metade do território coreano para um dos dois sistemas: capitalista ou socialista.
Estados Unidos e União Soviética tomaram respectivamente os territórios ao sul e ao norte do paralelo 38. Desde então, uma linha divisória imaginária separa o que antes mantinha unidos amigos e familiares.
A Coreia do Norte alcançou, desde a década de 1970, a erradicação do analfabetismo e a garantia de acesso à saúde a todos pelo Estado. Estas conquistas norte-coreanas nos fazem questionar o que entendemos por "pobreza", uma vez que as críticas principais ao regime de Kim Jong Il referem-se ao empobrecimento da população pelo regime dito "comunista" e ao desenvolvimento de um programa nuclear.
Efetivamente se deseja um regime político mais participativo e transparente por observadores forâneos, ainda que haja alguns índices sociais satisfatórios no governo de Kim Jong Il. O receio, porém, justifica-se pela classificação da Coreia do Norte no "Eixo do Mal", juntamente com Iraque e Irã, pelos porta-vozes da agressiva e desrespeitosa política exterior euana.
A fim de esquentar o caldeirão, circula na rede a notícia de que um torpedo da Coreia do Norte afundou um navio de guerra sul-coreano e causou a morte de 46 pessoas em 26 de março de 2010.
Desde então, Coreia do Sul rompeu relações comerciais com seu vizinho do Norte e aumentou o número de militares na fronteira, que já era militarizada. As maiores provocações ocorrem no mar Amarelo, a oeste da península, onde ambas Coreias testam seu armamento e se posicionam em clima de conflito.
Pyongyang rompeu relações diplomáticas com Seul e - o ponto mais delicado - desfez o pacto de não agressão que emergiu no armistício de 1953.
Não tardou para que a tática isolacionista das sanções fosse proposta por EUA e seus apaniguados. A China, ainda que membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, resiste a apoiar sanções contra Coreia do Norte devido a afinidades históricas.
Coreia do Sul, China e Japão aliaram-se nas negociações com Coreia do Norte. O discurso gira em derredor da manutenção da paz e da estabilidade na região.
A informação histórica é de que tanto China como Japão foram países que dominaram a Coreia por longos anos. O Japão o fez a partir do momento em que se modernizou e adotou um padrão de desenvolvimento ocidental que, ainda hoje, demanda a subordinação comercial de territórios além da fronteira nacional.
É o que explica por que é necessária uma frota cada vez maior de caminhões carregados de minério de ferro da América Latina para comprar os componentes eletrônicos japoneses, com elevado valor agregado.
O conflito entre as Coreias promete ainda algum tempo de amargura. Em qualquer dos lados, apodrece as garras do ser humano enquanto predador da virtude de solidariedade.
A recompensa da batalha final entre as Coreias é de que as populações cindidas se juntem para formar uma nação grande e coerente. Sem ingerência externa.
Nenhuma história de mazelas é tão eficaz como para deixar um presente imaculado.
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