O presidente do Chile, Sebastián Piñera, vai enfrentar nos próximos dias o desafio aplacar a polêmica entre a Igreja Católica e os setores que defendem a punição a todos os envolvidos em crimes políticos cometidos durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973 a 1990).
Piñera recebeu hoje do cardeal arcebispo de Santiago, Francisco Javier Errazuriz, e do presidente da Conferência Episcopal do Chile, monsenhor Alejandro Goic, a proposta do Bicentenário do Perdão concedido pela Igreja Católica.
As informações são da Presidência da República e Conferência Episcopal do Chile. Pela proposta, o governo deve libertar os sentenciados por crimes de violação de direitos humanos cometidos durante o regime militar. Mas o texto faz uma ressalva: os casos devem ser analisados de forma particular e considerar que houve diferentes ações que levaram a atos menos e mais responsáveis.
“Em nossa opinião, não é mesmo um perdão geral, ou uma rejeição geral da anistia para todos os ex-soldados condenados. A reflexão deve-se distinguir, por exemplo, o grau de responsabilidade que cai a cada um, o grau de liberdade com que agiu, a gestos de humanidade que tinha e manifestou arrependimento por seus crimes”, informa o texto da Igreja Católica.
Em seguida, o documento destaca que: “Aqueles sentenciados por crimes de Direitos Humanos cometidos pelo regime militar [devem ser indultados]. Não se esqueçam que nem todos tinham a mesma responsabilidade nos crimes cometidos”.
A proposta sugere ainda que deve ser concedido indulto também aos detidos que têm mais de 70 anos, aos doentes graves mentais e terminais. No caso das mulheres com filhos menores de 18 anos, a pena deve sofrer redução gradual, segundo a sugestão da Igreja Católica. A proposta batizada de "Chile, uma mesa para todos no Bicentenário" deve ser discutida por vários setores do Executivo e Legislativo.
No Chile, a história da ditadura ainda é presente. Pelos dados oficiais, foram 28 mil pessoas torturadas e outras 2.279 desaparecidas e mortas. As chamadas Comissões de Verdade identificaram 180 crianças e adolescentes assassinados, além de 1.283 presos e torturados.
A ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, no final de seu governo, prestou uma homenagem às vítimas da ditadura e a suas famílias. Ela inaugurou o Museu da Memória e dos Direitos Humanos em Santiago. No local há fotografias das vítimas, depoimentos de homens e mulheres que foram torturados, cartas de crianças a seus pais desaparecidos e a reprodução de uma sala de tortura com uma cama elétrica.
Renata Giraldi/Repórter da Agência Brasil
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