Valdir e Fatima Bologhinini. Foto Jonas Oliveira |
O produtor rural Valdir Bologhnini não se arrepende de ter reservado uma parte de sua propriedade, em São Pedro do Ivaí, para produzir soja sem adubo químico e sem pesticida. “Convertido” ao cultivo orgânico há 10 anos, Bologhnini contabiliza lucros financeiros e benefícios ao meio ambiente, somando-se às 7.527 propriedades paranaenses que já abriram espaço para este tipo de cultura. A cada ano, desde 2002, elas aumentam em 20% a produção total de orgânicos do Paraná, destinada a um mercado cujo potencial é muito grande.
De acordo com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, o Paraná colheu 124.323 toneladas de produtos orgânicos em 2009, em 12.821,51 hectares. Parceiro da Emater e um pioneiro no estudo da viabilidade da soja orgânica biodinâmica, Valdir Bologhnini é um entusiasta do assunto.
De acordo com o agricultor, o custo de produção de soja orgânica é equivalente ao da soja convencional, mas o preço de mercado chega a ser até 50% maior. “É lucro certo”, comemora Bologhnini. Mesmo em dias de alta de preços da soja convencional, a matemática continua favorável à orgânica. A cotação da primeira, na última sexta-feira (4) chegou a R$ 46,70, enquanto que a orgânica permanecia estável a R$ 64,00 – 37% a mais.
Valdir Bologhnini é parceiro da Emater e um pioneiro no estudo da viabilidade da soja orgânica biodinâmica. Dos 210 hectares da propriedade da família, 50 hectares abrigam a cultura e, há oito anos, são um laboratório de experimentos ao ar livre, onde são avaliadas as variedades de soja que melhor se adaptam ao sistema orgânico, as formas mais eficazes de combate a pragas e doenças e os índices de produtividade. A previsão para este ano é de que sejam colhidas em torno de 65 sacas por hectare cultivado, 11 a mais do que no ano passado.
Orientado pelo pesquisador do Iapar Ademir Calegari, especialista em plantas de cobertura para sistemas agroecológicos, seo Valdir optou pela produção de soja orgânica por plantio direto com rotação de culturas. “É o produtor que faz a validação tecnológica das pesquisas. E a propriedade do seo Valdir comprova como a rotação ajuda a enriquecer a vida no solo e evita o desperdício de insumos e de dinheiro”, avalia.
Para a produção de soja e milho, Calegari recomenda intercalar com o plantio de leguminosas, como a ervilhaca peluda e o nabo forrageiro, e gramíneas, como a aveia e o centeio. “Essas culturas proporcionam boa cobertura, enriquecem o solo e aumentam a fixação do nitrogênio, fundamental para manter a fertilidade”, diz.
SOS NATUREZA – Para combater pragas e doenças, o socorro vem da própria natureza. Um dos maiores vilões da cultura de soja é o percevejo. Em lavouras convencionais, os agricultores chegam a fazer nove aplicações de veneno para combatê-lo. A alternativa adotada na produção orgânica é colocar armadilhas feitas de garrafa pet com uma mistura de urina de vaca, sal e água. Usada desde o início da cultura, ela atrai os insetos, que entram na garrafa e acabam morrendo.
Para detectar a chegada da temível ferrugem asiática e permitir que o agricultor aja a tempo de evitar perdas, a Embrapa desenvolveu e está testando um coletor de esporos. O aparelho monitora a intensidade da presença do fungo e sinaliza a hora certa de iniciar a aplicação dos defensivos naturais.
Um deles é a calda bordalesa, feita de sulfato de cobre, cal e água limpa. A lagarta da soja também é combatida com seu inimigo natural – o baculovirus, também aplicado em calda, que garante a sanidade da soja.
“A divulgação dos resultados que vêm sendo obtidos na propriedade do seo Valdir são importantes para ajudar a mudar a mentalidade dos agricultores. Obter o controle de pragas sem herbicidas era inimaginável para o produtor que estava habituado a seguir as prescrições feitas para o cultivo tradicional”, avalia o agrônomo Vagner Mazeto, da Emater.
DESPERDÍCIO – Pesquisas comprovam que a falta de avaliação das condições do solo antes do plantio está resultando em desperdício de fertilizantes e gasto desnecessário de dinheiro. “O agricultor está acostumado a aplicar o fertilizante de acordo com um calendário padronizado pela indústria. Mas as avaliações que fazemos individualmente nas propriedades mostram que, em grande parte delas, o solo já está muito rico em nutrientes e que a adubação para cumprir calendário resulta em desperdício e em gastos desnecessários”, afirma o coordenador da área de grãos da Emater, Nelson Harger.
ONDE E COMO VENDER
Os bons ventos da produção de soja orgânica chamam a atenção de agricultores interessados neste nicho de mercado, estudantes e pesquisadores. O Dia de Campo realizado pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) na fazenda São Luiz, em São Pedro do Ivaí, região norte do Paraná, na última semana de fevereiro, reuniu mais de 150 pessoas.
Um dos participantes foi o empresário Roberto Perini, proprietário da Agroorgânica, um dos pioneiros no cultivo e na comercialização de orgânicos no Paraná. Ele reforça que a soja orgânica é uma boa alternativa mesmo para o pequeno produtor, desde que ele se reúna em associações que viabilizem a logística necessária para o atendimento das exigências dos clientes internacionais com quem negocia.
Os maiores consumidores de soja orgânica estão na América do Norte, Europa e Ásia, que compram 95% da produção. “Pequenos produtores podem juntar-se para fazer o transporte dos grãos de forma segura, sem contaminação, até o ponto do embarque nos contêineres que levam a soja para o exterior”, diz Perini. A produção paranaense é rastreada e cada lote de soja exportado está identificado com o nome do produtor e tem certificação de origem.
A turma foi acompanhar os estudos feitos em parceria pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Universidade Estadual de Londrina (UEL).
REVOLUÇÃO NATURAL
Uma cirurgia na coluna colocou o agricultor Valdir Bologhinini “de molho” dez anos atrás. Com as férias forçadas, o produtor de soja convencional se distraiu em casa lendo sobre a agricultura orgânica. Um curso com a duração de um ano realizado tempos depois em São Pedro do Ivaí ampliou seus conhecimentos e reforçou a curiosidade.
Único sojicultor a terminar o curso, ele logo encontrou informação complementar para agregar ainda mais valor ao seu produto e trabalhar em sintonia com a natureza: preparou parte da propriedade de acordo com as normas para orgânicos e decidiu seguir a linha da agricultura biodinâmica. Aprendeu seus princípios, o uso do calendário lunar, as melhores horas do dia para cada tipo de atividade.
A família estava descrente e ria quando ele começou a adotar as novas técnicas e abriu mão da aplicação de defensivos. “O pessoal achava que o Valdir era um visionário, mas teve que reconhecer que a persistência dele deu resultados. Na safra 2005-2006, quando o preço da soja convencional estava muito baixo, foi o bom preço da orgânica que garantiu a cobertura dos prejuízos”, lembra o agrônomo da Emater Vagner Mazeto.
“Dá mais trabalho, mas os resultados compensam. A adoção dos princípios da biodinâmica aumenta entre 10 e 15% o preço da soja orgânica, e os ganhos para o meio ambiente são a melhor recompensa: água e ar puro, com mais saúde para a família toda”, argumenta Valdir Bologhnini.
Com a persistência no método, o ambiente da plantação vai ganhando mais equilíbrio e as infestações são de menor intensidade, facilmente controladas com o uso de produtos extraídos da própria natureza para evitar as perdas. “Para cultivar uma área de dois hectares de soja, basta trabalhar em média uma hora por dia, o suficiente para manter a lavoura limpa e o mato controlado”, ensina o agricultor.
De acordo com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, o Paraná colheu 124.323 toneladas de produtos orgânicos em 2009, em 12.821,51 hectares. Parceiro da Emater e um pioneiro no estudo da viabilidade da soja orgânica biodinâmica, Valdir Bologhnini é um entusiasta do assunto.
De acordo com o agricultor, o custo de produção de soja orgânica é equivalente ao da soja convencional, mas o preço de mercado chega a ser até 50% maior. “É lucro certo”, comemora Bologhnini. Mesmo em dias de alta de preços da soja convencional, a matemática continua favorável à orgânica. A cotação da primeira, na última sexta-feira (4) chegou a R$ 46,70, enquanto que a orgânica permanecia estável a R$ 64,00 – 37% a mais.
Valdir Bologhnini é parceiro da Emater e um pioneiro no estudo da viabilidade da soja orgânica biodinâmica. Dos 210 hectares da propriedade da família, 50 hectares abrigam a cultura e, há oito anos, são um laboratório de experimentos ao ar livre, onde são avaliadas as variedades de soja que melhor se adaptam ao sistema orgânico, as formas mais eficazes de combate a pragas e doenças e os índices de produtividade. A previsão para este ano é de que sejam colhidas em torno de 65 sacas por hectare cultivado, 11 a mais do que no ano passado.
Orientado pelo pesquisador do Iapar Ademir Calegari, especialista em plantas de cobertura para sistemas agroecológicos, seo Valdir optou pela produção de soja orgânica por plantio direto com rotação de culturas. “É o produtor que faz a validação tecnológica das pesquisas. E a propriedade do seo Valdir comprova como a rotação ajuda a enriquecer a vida no solo e evita o desperdício de insumos e de dinheiro”, avalia.
Para a produção de soja e milho, Calegari recomenda intercalar com o plantio de leguminosas, como a ervilhaca peluda e o nabo forrageiro, e gramíneas, como a aveia e o centeio. “Essas culturas proporcionam boa cobertura, enriquecem o solo e aumentam a fixação do nitrogênio, fundamental para manter a fertilidade”, diz.
SOS NATUREZA – Para combater pragas e doenças, o socorro vem da própria natureza. Um dos maiores vilões da cultura de soja é o percevejo. Em lavouras convencionais, os agricultores chegam a fazer nove aplicações de veneno para combatê-lo. A alternativa adotada na produção orgânica é colocar armadilhas feitas de garrafa pet com uma mistura de urina de vaca, sal e água. Usada desde o início da cultura, ela atrai os insetos, que entram na garrafa e acabam morrendo.
Para detectar a chegada da temível ferrugem asiática e permitir que o agricultor aja a tempo de evitar perdas, a Embrapa desenvolveu e está testando um coletor de esporos. O aparelho monitora a intensidade da presença do fungo e sinaliza a hora certa de iniciar a aplicação dos defensivos naturais.
Um deles é a calda bordalesa, feita de sulfato de cobre, cal e água limpa. A lagarta da soja também é combatida com seu inimigo natural – o baculovirus, também aplicado em calda, que garante a sanidade da soja.
“A divulgação dos resultados que vêm sendo obtidos na propriedade do seo Valdir são importantes para ajudar a mudar a mentalidade dos agricultores. Obter o controle de pragas sem herbicidas era inimaginável para o produtor que estava habituado a seguir as prescrições feitas para o cultivo tradicional”, avalia o agrônomo Vagner Mazeto, da Emater.
DESPERDÍCIO – Pesquisas comprovam que a falta de avaliação das condições do solo antes do plantio está resultando em desperdício de fertilizantes e gasto desnecessário de dinheiro. “O agricultor está acostumado a aplicar o fertilizante de acordo com um calendário padronizado pela indústria. Mas as avaliações que fazemos individualmente nas propriedades mostram que, em grande parte delas, o solo já está muito rico em nutrientes e que a adubação para cumprir calendário resulta em desperdício e em gastos desnecessários”, afirma o coordenador da área de grãos da Emater, Nelson Harger.
ONDE E COMO VENDER
Os bons ventos da produção de soja orgânica chamam a atenção de agricultores interessados neste nicho de mercado, estudantes e pesquisadores. O Dia de Campo realizado pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) na fazenda São Luiz, em São Pedro do Ivaí, região norte do Paraná, na última semana de fevereiro, reuniu mais de 150 pessoas.
Um dos participantes foi o empresário Roberto Perini, proprietário da Agroorgânica, um dos pioneiros no cultivo e na comercialização de orgânicos no Paraná. Ele reforça que a soja orgânica é uma boa alternativa mesmo para o pequeno produtor, desde que ele se reúna em associações que viabilizem a logística necessária para o atendimento das exigências dos clientes internacionais com quem negocia.
Os maiores consumidores de soja orgânica estão na América do Norte, Europa e Ásia, que compram 95% da produção. “Pequenos produtores podem juntar-se para fazer o transporte dos grãos de forma segura, sem contaminação, até o ponto do embarque nos contêineres que levam a soja para o exterior”, diz Perini. A produção paranaense é rastreada e cada lote de soja exportado está identificado com o nome do produtor e tem certificação de origem.
A turma foi acompanhar os estudos feitos em parceria pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Universidade Estadual de Londrina (UEL).
REVOLUÇÃO NATURAL
Uma cirurgia na coluna colocou o agricultor Valdir Bologhinini “de molho” dez anos atrás. Com as férias forçadas, o produtor de soja convencional se distraiu em casa lendo sobre a agricultura orgânica. Um curso com a duração de um ano realizado tempos depois em São Pedro do Ivaí ampliou seus conhecimentos e reforçou a curiosidade.
Único sojicultor a terminar o curso, ele logo encontrou informação complementar para agregar ainda mais valor ao seu produto e trabalhar em sintonia com a natureza: preparou parte da propriedade de acordo com as normas para orgânicos e decidiu seguir a linha da agricultura biodinâmica. Aprendeu seus princípios, o uso do calendário lunar, as melhores horas do dia para cada tipo de atividade.
A família estava descrente e ria quando ele começou a adotar as novas técnicas e abriu mão da aplicação de defensivos. “O pessoal achava que o Valdir era um visionário, mas teve que reconhecer que a persistência dele deu resultados. Na safra 2005-2006, quando o preço da soja convencional estava muito baixo, foi o bom preço da orgânica que garantiu a cobertura dos prejuízos”, lembra o agrônomo da Emater Vagner Mazeto.
“Dá mais trabalho, mas os resultados compensam. A adoção dos princípios da biodinâmica aumenta entre 10 e 15% o preço da soja orgânica, e os ganhos para o meio ambiente são a melhor recompensa: água e ar puro, com mais saúde para a família toda”, argumenta Valdir Bologhnini.
Com a persistência no método, o ambiente da plantação vai ganhando mais equilíbrio e as infestações são de menor intensidade, facilmente controladas com o uso de produtos extraídos da própria natureza para evitar as perdas. “Para cultivar uma área de dois hectares de soja, basta trabalhar em média uma hora por dia, o suficiente para manter a lavoura limpa e o mato controlado”, ensina o agricultor.
Postar um comentário
Obrigado pela participação.