Durante um evento com o então
presidente russo Dmitry Medvedev, em 2010, Barack Obama comentou o fato de o
colega ter criado uma conta no Twitter: "Nós agora podemos jogar fora
aqueles telefones vermelhos que estão estão aí, inúteis, há tanto tempo."
Apesar do tom de piada do
comentário feito pelo presidente americano, de fato, líderes mundiais vêm cada
vez mais usando a ferramenta para incrementar suas relações diplomáticas e se
comunicar com a população.
Três anos após a brincadeira de
Obama, 77% dos líderes globais ─ ou seus governos ─ usam o Twitter, segundo
dados do estudo "Twiplomacy 2013", que analisou o uso da ferramenta
por parte de líderes globais e de seus governos
A análise levou em conta 505
perfis ─ entre presidentes, premiês e chancelarias ─ de 153 países e incluiu
comentários e críticas sobre a maneira como tuítam os líderes latino-americanos.
Quase todos os países da região,
exceto Suriname e Nicarágua, têm contas oficiais na rede social e o uso do
espanhol nos perfis analisados passou de 15% em 2012 para 31% neste ano,
justamente pela participação dos líderes da região.
"O Twitter se consolidou
como uma ferramenta de integração na diplomacia, inclusive na América Latina. É
uma ferramenta rápida e muito útil nesse sentido", diz a consultora Paula
Bakaj, da agência Burson-Marsteller Brasil, responsável pelo estudo, à BBC
Brasil.
Mas se o Twitter é popular entre
os líderes da região, o modo como eles usam a ferramenta varia bastante e vai
dos que postam em grande quantidade aos que abandonaram seus perfis, passando
por outros que usam a mídia social apenas para divulgar sua agenda oficial.
Confira abaixo alguns destaques
do Twiplomacy sobre o comportamento na rede social dos líderes e governos da
região e algumas comparações com seus pares mundo afora.
A mais popular
A presidente argentina Cristina
Kirchner tem o maior número de seguidores de Twitter. "Vale lembrar que a
Argentina é um país com um perfil de população muito politizada, que participa
mais e há mais tempo", avalia Paula Bakaj.
Cristina Kirchner
(@CFKArgentina): mais de 2,1 milhões de seguidores
Enrique
Peña Nieto, presidente do México (@EPN): 1,9 milhões
Juan Manuel Santos
(@JuanManSantos), presidente da Colômbia: 1,9 milhões
Dilma
Rousseff (@dilmabr): 1,8 milhões, mesmo sem atualizar desde 2010
Nicolas Maduro
(@NicolasMaduro): 1,2 milhões, sendo que entrou no Twitter neste ano e
conquistou 1,1 milhão de seguidores em menos de 3 meses
* No mundo: No topo da lista está o presidente americano Barack Obama (@BarackObama), com mais
de 33 milhões de seguidores.
O perfil com mais atualizações
A presidência da Venezuela é o
perfil que mais posta - e não apenas na América Latina, mas também entre todos
os 505 perfis analisados no estudo.
Presidência da Venezuela (@PresidencialVen): média de 41,9 tweets por dia.
Presidência da República Dominicana (@PresidenciaRD): 35,3 tweets pr dia
Presidência da Colômbia (@infopresidencia): 30,7 tweets por dia
Presidência do México (@PresidenciaMX): 24,9 tweets por dia
O mais bem conectado
Neste quesito, leva-se em conta o
número de conexões mútuas, ou seja, quantos perfis a pessoa ou órgão segue e é
seguido de volta. "Esse dado é importante porque mostra quem está
interessado em receber e compartilhar notícias de outras países, ou seja,
mostra que quer entender o que está acontecendo com outras nações", afirma
Paula Bakaj.
Ministério das Relações Exteriores do Brasil (@MREBrasil): 15 conexões
mútuas com outros órgãos ou líderes mundiais
Laurent Lamothe
(@LaurentLamothe), primeiro-ministro do Haiti: 14
Ministério das Relações Exteriores do Peru (CancilleriaPeru): 12
Presidente da Colômbia (@JuanManSantos): 10
* No mundo: Carl Bildt (@carlbidt): ministro das Relações Exteriores
da Suécia: 44 conexões mútuas
O mais 'conversador'
De nada adianta ter milhões de
seguidores ou ter boas conexões, se não houver interação com os usuários. Por isso,
responder a um tweet em que foi marcado é um item relevante para se medir o bom
uso da ferramenta. E autoridades do Equador lideram nesse quesito, com altas
porcentagens de respostas.
Rafael
Correa (@MashiRafael), presidente do Equador : 83%
Ricardo Patino (@RicardoPatinoEC),
chanceler do Equador: 43%
Laura
Chinchilla (@Laura_Ch), presidente da Costa Rica: 39%
Presidência
do Panamá (@SecComunicacion): 15%
Sebastián
Piñera (@sebastianpinera), presidente do Chile: 15%
*No mundo: Amama Mbabazi (@AmamaMbabazi), primeiro-ministro de
Uganda: 96%
O 'caso Dilma'
Ao lado do colega francês
François Hollande (@FHollande), a presidente do Brasil é citada como exemplo de
"aventura no Twitter" - ou seja, líderes que descobriram a ferramente
durante suas campanhas eleitorais e, após eleitos, abandonaram seus perfis.
O último tweet de Dilma
(@DilmaBR) foi ao ar assim que foi eleita, em dezembro de 2010: "Amigos,
muito legal ser tão lembrada no twitter em 2010, Logo eu, que tive tão pouco
tempo p/ estar aqui c/ vcs. Vamos conversar mais em 2011."
"Os mais de 1,8 milhão de
seguidores da presidente ainda estão esperando pela continuação dessas
conversas", disse Paula, lembrando que a ferramenta poderia ter sido bem
usada durante os protestos para conversar com os brasileiros. "O custo de
governantes não usarem ou usarem mal o Twitter é o de deixar a população desinformada,
um grande risco."
Apesar do perfil inativo de
Dilma, a Presidência da República também mantém no Twitter um perfil do Blog do
Planalto (@blogplanalto), que não aparece entre os perfis analisados pelo
estudo.
Tweets que ficaram famosos (tradução livre)
"Isso o deixaria feliz.
Máximo, nosso filho, vai ser papai! Vou ter um neto! CFK avó! Deus te tira...,
Deus te dá", tweet da presidente argentina, Cristina Kirchner (@CFKArgentina), aparentemente dirigida ao seu
marido, Néstor Kirchner, morto em 2010.
"Olá a todos, estou em uma
reunião, mais chata do que dançar com a sogra. Logo escrevo mais, adoro
vocês!", tweet bastante irônico de
Rafael
Correa (@MashiRafael).
"No Estreito de Magalhães,
olhando a Terra do Fogo e a Antártida, junto a minha mulher Cecília",
tweet 'em falso' do presidente chileno, Sebastián
Piñera (@sebastianpinera), que logo foi corrigido pelos usuários, que
disseram que era algo impossível, já que a Antártida estava a 1,3 mil km de
onde ele estava.
Mariana Della Barba
Da BBC Brasil em São Paulo
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