JBPress
  • CAPA
    • BRASIL
    • ECONOMIA
  • CADERNOS
    • VIDEOS
    • CULTURA
    • CURIOSIDADE
    • MODA
  • CADERNOS 2
    • SAÚDE
    • AGRO
    • PARANÁ
    • CIÊNCIA
  • OPINIÃO
  • ESTILO
  • MUNDO

Home Opinião A quem interessa a onda de intolerância religiosa que sacode o Brasil?

A quem interessa a onda de intolerância religiosa que sacode o Brasil?

JBPress novembro 17, 2017 0

Os mais perseguidos são os locais de culto das religiões de matriz africana, mas também atinge outros templos



O Brasil está destruindo um dos seus maiores valores, sua proverbial tolerância religiosa e a coexistência pacífica entre as diferentes confissões. A quem interessa essa onda iconoclasta que  cresceu 4.960% em apenas cinco anos, que registra uma denúncia de hostilidade ou profanação de locais de culto e pessoas que os dirigem a cada 15 horas?

Os mais perseguidos são os locais de culto das religiões de matriz africana, mas também atinge templos católicos e protestantes, igrejas evangélicas, centros espíritas e sinagogas judaicas. Imagens de orixás são queimadas, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida é destruída a golpes de martelo, os sacrários das igrejas católicas são violados e as hóstias consagradas são jogadas no chão e nem os cemitérios são respeitados.

Estamos diante de um fato novo e é urgente descobrir o que se esconde por trás dessa nova guerra contra o sagrado. Que a um Brasil atravessado por uma perigosa corrente de ódio político e social se queira acrescentar a intolerância e a agressão física aos símbolos e pessoas religiosas poderia ser a última etapa da barbárie. A tolerância e a riqueza de entidades religiosas convivendo em paz neste país foi resultado da feliz conjunção histórica do encontro de três crenças trazidas pelos três povos que engendraram o Brasil: a indígena, a cristã - contribuição dos europeus -, e a africana, dos quatro milhões de escravos.

O longo e perigoso trabalho realizado pelas diferentes crenças religiosas para defender seus deuses produziu o milagre do sincretismo pacífico. Não foi realizado sem dor, mas o Brasil conseguiu manter a essência das três raízes espirituais caminhando juntas e até misturadas, dando vida a uma riqueza religiosa e cultural talvez única no mundo.

Isso fez com que o Brasil fosse um dos países mais permeados pelo sagrado e, de acordo com muitos estudiosos das religiões, com uma diferença significativa, pois colocou o sagrado no coração da vida para libertá-la dos medos das religiões monoteístas injetando doses de felicidade e amor pela Terra e pela vida, a de carne e osso.

Foram as crenças africanas que ajudaram os brasileiros a ver, por exemplo, com novos olhos, não só a vida, mas também o seu fim, pois nelas os mortos, como escreveu o poeta senegalês Birago Diop, “não estão sob a terra, eles estão na árvore que geme”. Eles continuam vivos e ao nosso lado para nos proteger.

Triste paradoxo o de que um Brasil fazendo terrorismo com as crenças religiosas de origem africana quando elas começam a ser importadas pelo Ocidente racionalista. A mãe de santo alemã Gabriela Hilgest confessou, por exemplo, à minha colega Carla Jiménez, que os brasileiros “são espiritualmente mais desenvolvidos do que os alemães”.

Hoje é possível ser crente, agnóstico ou ateu, mas queiramos ou não, é impossível evitar a pergunta de por que se morre, que segundo os especialistas foi a origem de todas as religiões. O Nobel de Literatura, o ateu José Saramago, disse que se os homens deixassem de morrer, as religiões acabariam. Mas continuamos morrendo, e as crenças, todas elas, com suas luzes e sombras, com seus símbolos sagrados e credos diferentes, nos lembram que a vida continuará atravessada pela dúvida, já que ninguém ainda resolveu o enigma do além.

Existem símbolos e arquétipos como os da vida e da morte, da mãe terra ou do sagrado, que, se não forem respeitados, deslizaremos para uma nova barbárie tão perigosa, se cabe a expressão, quanto a política ou a social. Somente os animais não têm cemitérios nem rendem cultos a seus mortos, embora pareça que os elefantes se afastem para morrer em um lugar especial para isso. Perseguir ou desprezar qualquer tipo de busca espiritual é querer apagar com violência a curiosidade, e talvez a necessidade, que o homem continua tendo pelo mistério.



SHOPPING CONFIRA!


Tags: Opinião
Share:

Postar um comentário

Obrigado pela participação.

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial
Assinar: Postar comentários ( Atom )
Designed by OddThemes

AUTOR


João de Bourbon é Jornalista, Publicitário e Consultor Político. 
Coordenou e participou de diversas campanhas eleitorais, presta consultoria em Marketing Político e é membro da IAPC – International Association of Political Consultants, associação que congrega os melhores profissionais de Marketing Político do mundo.

Conexão

Curitiba News

MAIS LIDAS

  • Sem liberdade de expressão não existe democracia
    Entrevista: Paulo Uebel, presidente do Instituto Millenium Uebel: Democracia resume a eleição A América Latina vive um momento marcado po...
  • Em Paranavaí, Osmar Dias defende compromisso com o Paraná
    Osmar recebe homenagem na ExpoParanavaí 2010 Paranavaí - 20.03.2010 – “O meu compromisso é do tamanho do Paraná”, afirmou Osmar Dias, neste...
  • Ibaiti esta de luto pela perda de um dos seus filhos que sempre foi uma referência empresarial, Liberatto Regazzo
    O falecimento do empresário e fundador da rede de lojas Santa Terezinha, no dia 19 de março de 2010, Senhor Liberatto Regazzo, deixa o ...
  • Lei municipal que proíbe transporte com uso de aplicativos é inconstitucional, defende PGR
    A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que uma lei municipal que proíbe o uso de car...
Tecnologia do Blogger.