Greve expõe dependência brasileira do transporte rodoviário de carga, responsável por mais de 60% da circulação de produtos no país. Falta de infraestrutura e de segurança nas estradas encarecem frete.
A falta de itens básicos nas prateleiras dos mercados em algumas cidades do Brasil é um alerta de que a paralisação dos caminhoneiros que chegou ao quinto dia nesta sexta-feira (25/05) não é uma greve qualquer.
O setor de transporte de carga rodoviário representa mais de 60% de tudo o que circula no país, incluindo itens essenciais, como alimentos e combustíveis. Os grevistas conseguiram não apenas parar o país, mas também pressionar o governo e o Congresso.
Entenda a importância do setor para a economia brasileira:
Qual a magnitude do transporte rodoviário de carga no Brasil?
As estimativas sobre o total de caminhoneiros em atividade no país variam bastante, mas algumas entidades do setor calculam que mais de 1 milhão aderiram à greve atual. O Brasil possui uma frota de cerca de 2 milhões de caminhões de carga, sendo 60% de motoristas autônomos. Estão registradas no Brasil mais de 11 mil empresas de transporte rodoviário de carga.
Qual a importância do transporte de carga por caminhões?
Especialistas afirmam que apenas caminhões de carga conseguem deixar o produto na porta do consumidor final, fazendo com que esse tipo de transporte seja indispensável. Em países com baixa malha ferroviária como o Brasil, a importância dos caminhões é ainda maior. Além disso, cerca de 90% do transporte ferroviário de carga no Brasil é dedicado a minério e grãos, restando apenas 10% para outros produtos. Por isso, praticamente todos os itens indispensáveis para o consumidor, incluindo alimentos e combustível, dependem do transporte por caminhões.
Como a greve dos caminhoneiros afeta o abastecimento?
O setor de transporte de carga rodoviário é responsável por 62% de todas as mercadorias que trafegam no Brasil. Uma greve geral como a atual deixa alguns setores particularmente vulneráveis, como a agricultura. É grande o impacto no abastecimento de frutas, verduras e produtos perecíveis, como laticínios e carnes. O abastecimento de combustível também é prejudicado. Em algumas cidades do país, prefeituras decretaram estado de emergência, orientando postos a restringir a venda de combustível apenas para ambulâncias e veículos da polícia.
Qual o impacto do combustível no custo final de um frete?
A Associação Brasileira de Logística calcula que o custo do combustível representa em média 30% no custo logístico de um produto que chega às prateleiras. Com os aumentos recentes no diesel, esse percentual superou os 40%. Mesmo custando cinco vezes menos, o transporte ferroviário ainda é pouco utilizado no país, representando menos de 20% do setor de cargas, reflexo também da falta de investimento em novas linhas férreas. Até 2016, a malha ferroviária brasileira era de apenas 29.165 quilômetros de extensão, de acordo com o relatório da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
O que eleva o custo do transporte rodoviário de carga no Brasil?
A malha rodoviária brasileira é de 1,7 milhão de quilômetros, mas desse total apenas 12,2% (210.618 de quilômetros) está pavimentado. Essa falta de infraestrutura é apontada como um dos principais fatores que encarecem o transporte de carga por rodovia no Brasil, afetando a depreciação do veículo, a sua manutenção e o desgaste dos pneus, que juntos representam 40% do custo do frete.
Outro fator que encarece o frete é a falta de segurança nas estradas. Um levantamento publicado no ano passado pelo JCC Cargo Watchlist, comitê britânico que monitora cargas no mundo, colocou o Brasil na sexta colocação no ranking dos países mais perigosos para transporte de carga em rodovias. O país está atrás apenas de Iêmen, Líbia, Síria, Afeganistão e Sudão do Sul. Em média, o preço do seguro de um caminhão é responsável por 5% do valor do frete, mas esse valor pode chegar a 30% se a rota precisar de contratação de escolta armada.
Como é formado o preço do diesel pago pelos caminhoneiros?
Aumentos sucessivos no preço do combustível motivaram a paralisação atual dos caminhoneiros. No começo da semana, a gasolina chegou a cinco reais, e o diesel superou a marca dos quatro reais em algumas cidades brasileiras.
Representantes do setor apontam que houve um aumento de 35% no valor do diesel desde dezembro, gerando um custo muito elevado para o transportador. Com os aumentos recentes, o combustível chegou a representar 40% do custo logístico de um produto.
Entre os fatores que influenciam o aumento estão a desvalorização do real frente ao dólar e o aumento do preço do barril do petróleo no mercado internacional. Além disso, a tributação sobre o combustível representa quase 30% de seu valor final.
Seis itens compõem o preço do diesel pago pelos caminhoneiros: venda do produto na refinaria (49%), biodiesel com frete e tributos (7%), impostos federais como Pis/Pasep, Cofins e Cide (14%), impostos estaduais como ICMS (14%), distribuição (5%) e margem de revenda (11%).
Postar um comentário
Obrigado pela participação.