Indignado com a diretriz do Partido dos Trabalhadores para que os senadores votassem pela
manutenção do arquivamento das denúncias contra José Sarney no Conselho de Ética, o senador
Flávio Arns denunciou com todas as letras a ambição desmedida da sigla para se manter no poder.
O abandono dos ideais de ética e de transparência, citado pelo senador paranaense, é marca
distintiva do petismo pós-ascensão presidencial e não tem passado despercebido à sociedade. No
caso de Arns, no entanto, a denúncia ganha força por partir de um analista com um posto de
observação privilegiado.
Para citar apenas o exemplo mais recente, a política de resultados levou o PT a trabalhar
intensamente pela blindagem de Sarney. Nem o presidente da República nem a ministra-chefe da
Casa Civil foram poupados das batalhas para proteger o presidente do Senado acusado de
patrocinar a edição de atos secretos, de praticar nepotismo e de ter usado o cargo em prol da
fundação que leva seu nome. O PMDB de Sarney, adversário político nas corridas eleitorais dos
anos 80 e 90, tornou-se alvo das maiores atenções do PT depois que Lula chegou ao Palácio do
Planalto. Isso porque é considerado indispensável para que o PT consiga manter-se no comando
do Executivo.
A escalada fisiológica provocou baixas importantes nos últimos dias. A senadora Marina Silva levou
a cabo a decisão previamente anunciada de sair do partido alegando já não ter bandeiras em
comum com o PT. Arns, por sua vez, manifestou vergonha por estar filiado à sigla que, por apego ao
poder, esteve, nos últimos anos, envolvida em escândalos de grandes proporções. Por isso
declarou que deixará o partido na semana que vem, mesmo que a atitude o leve a perder o
mandato. Sua decisão é exemplar. Em oposição à cultura claramente dominante no partido, Arns
anuncia que não pagará qualquer preço pelo cargo. Vai lutar por ele, mas não a ponto de voltar ao
partido.
A situação de Arns traz à tona um tema que sempre ronda o debate eleitoral e que já foi analisado
pela mais alta corte do país: a fidelidade partidária. Em outubro de 2007, o Supremo Tribunal
Federal (STF) decidiu que o mandato é do partido. Num cenário de pulverização partidária e de
barganha política patrocinada pelo Executivo, a decisão do STF faz todo o sentido. Dá conta, afinal,
de fazer prevalecer um conjunto de ideias e não o personalismo tão característico da política
nacional. Mas a fidelidade partidária não pode ser tomada como valor absoluto, e o caso do
senador Arns bem o ilustra.
Arns entrou para o PT por partilhar de seu conteúdo programático. Mas elenca razões para mostrar
que, desde então, a sigla se transformou. De quem é a infidelidade, afinal? É claramente do partido.
Não faz sentido algum que o ônus recaia sobre a parte que se manteve fiel ao conjunto de
propostas apresentada ao eleitor.
Arns afirmou, em entrevista à Gazeta do Povo publicada ontem, que vai entrar na Justiça para
mostrar que a ruptura é do partido e, portanto, merece manter o cargo. A sigla ainda não se
pronunciou sobre o caso do senador paranaense. Se mantiver um mínimo de coerência, Arns deve
ficar com o mandato. Afinal, foi essa a decisão aplicada à saída de Marina Silva. Em resposta ao
pedido de desfiliação da senadora do Acre, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, afirmou que não
pedirá que ela entregue o mandato dadas as suas "angústias pessoais em relação à política".
Há quem diga que tanto Marina Silva quanto Flávio Arns esperaram demais para pular de um barco
que, segundo eles próprios, segue por rotas tortuosas. De fato, não faltaram desvios que, tanto
quanto os que levaram à blindagem de Sarney, serviriam para justificar a saída do PT. Mas as
críticas dos dois senadores aos descaminhos petistas não são novas. Ambos estiveram
trabalhando para fazer prevalecer a ética no partido que um dia julgaram representar seus ideais,
mas que talvez nunca tenha sido o baluarte da ética que alegava ser nos tempos de oposição. Não
cabe acusá-los de omissão. Mais fiel à realidade é a exaltação da paciência e da tenacidade dos
senadores. Ademais, nunca é tarde para tomar a decisão correta.
manutenção do arquivamento das denúncias contra José Sarney no Conselho de Ética, o senador
Flávio Arns denunciou com todas as letras a ambição desmedida da sigla para se manter no poder.
O abandono dos ideais de ética e de transparência, citado pelo senador paranaense, é marca
distintiva do petismo pós-ascensão presidencial e não tem passado despercebido à sociedade. No
caso de Arns, no entanto, a denúncia ganha força por partir de um analista com um posto de
observação privilegiado.
Para citar apenas o exemplo mais recente, a política de resultados levou o PT a trabalhar
intensamente pela blindagem de Sarney. Nem o presidente da República nem a ministra-chefe da
Casa Civil foram poupados das batalhas para proteger o presidente do Senado acusado de
patrocinar a edição de atos secretos, de praticar nepotismo e de ter usado o cargo em prol da
fundação que leva seu nome. O PMDB de Sarney, adversário político nas corridas eleitorais dos
anos 80 e 90, tornou-se alvo das maiores atenções do PT depois que Lula chegou ao Palácio do
Planalto. Isso porque é considerado indispensável para que o PT consiga manter-se no comando
do Executivo.
A escalada fisiológica provocou baixas importantes nos últimos dias. A senadora Marina Silva levou
a cabo a decisão previamente anunciada de sair do partido alegando já não ter bandeiras em
comum com o PT. Arns, por sua vez, manifestou vergonha por estar filiado à sigla que, por apego ao
poder, esteve, nos últimos anos, envolvida em escândalos de grandes proporções. Por isso
declarou que deixará o partido na semana que vem, mesmo que a atitude o leve a perder o
mandato. Sua decisão é exemplar. Em oposição à cultura claramente dominante no partido, Arns
anuncia que não pagará qualquer preço pelo cargo. Vai lutar por ele, mas não a ponto de voltar ao
partido.
A situação de Arns traz à tona um tema que sempre ronda o debate eleitoral e que já foi analisado
pela mais alta corte do país: a fidelidade partidária. Em outubro de 2007, o Supremo Tribunal
Federal (STF) decidiu que o mandato é do partido. Num cenário de pulverização partidária e de
barganha política patrocinada pelo Executivo, a decisão do STF faz todo o sentido. Dá conta, afinal,
de fazer prevalecer um conjunto de ideias e não o personalismo tão característico da política
nacional. Mas a fidelidade partidária não pode ser tomada como valor absoluto, e o caso do
senador Arns bem o ilustra.
Arns entrou para o PT por partilhar de seu conteúdo programático. Mas elenca razões para mostrar
que, desde então, a sigla se transformou. De quem é a infidelidade, afinal? É claramente do partido.
Não faz sentido algum que o ônus recaia sobre a parte que se manteve fiel ao conjunto de
propostas apresentada ao eleitor.
Arns afirmou, em entrevista à Gazeta do Povo publicada ontem, que vai entrar na Justiça para
mostrar que a ruptura é do partido e, portanto, merece manter o cargo. A sigla ainda não se
pronunciou sobre o caso do senador paranaense. Se mantiver um mínimo de coerência, Arns deve
ficar com o mandato. Afinal, foi essa a decisão aplicada à saída de Marina Silva. Em resposta ao
pedido de desfiliação da senadora do Acre, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, afirmou que não
pedirá que ela entregue o mandato dadas as suas "angústias pessoais em relação à política".
Há quem diga que tanto Marina Silva quanto Flávio Arns esperaram demais para pular de um barco
que, segundo eles próprios, segue por rotas tortuosas. De fato, não faltaram desvios que, tanto
quanto os que levaram à blindagem de Sarney, serviriam para justificar a saída do PT. Mas as
críticas dos dois senadores aos descaminhos petistas não são novas. Ambos estiveram
trabalhando para fazer prevalecer a ética no partido que um dia julgaram representar seus ideais,
mas que talvez nunca tenha sido o baluarte da ética que alegava ser nos tempos de oposição. Não
cabe acusá-los de omissão. Mais fiel à realidade é a exaltação da paciência e da tenacidade dos
senadores. Ademais, nunca é tarde para tomar a decisão correta.
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