Tim Whewell
Do programa Newsnight, da BBC
Ativista de direitos
femininos, Magdulien Abaida passou a ser perseguida pelas milícias que ajudou
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Sunderland, na costa nordeste
da Inglaterra, é um refúgio improvável para uma ativista líbia forçada a deixar
para trás a revolução que ela ajudou a fomentar.
Magdulien Abaida, de 25
anos, que ajudou a organizar a ajuda provida a rebeldes que lutavam contra o
então coronel Muamar Khadafi, acaba de receber asilo por parte do governo
britânico.
Agora, a pequena cidade à
beira do mar do Norte, onde Magdulien não conhece ninguém, se tornou sua casa
temporária.
A ironia da situação é
óbvia: ela está sendo perseguida pelas pessoas que ajudou durante a revolução.
"É muito ruim você se colocar em risco por trabalhar pela revolução",
diz ela. "E, no final das contas, ter de abandoná-la porque ela deixou de
ser segura."
"Durante a revolução,
todos estavam unidos, trabalhando juntos. Mas agora ficou difícil."
Direitos
das mulheres
Filha de um advogado, Magdulien
cresceu na costa do Mediterrâneo, na capital da Líbia, Trípoli.
Para Anistia Internacional,
milícias estão fora do
controle do governo líbio
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Quando começaram os levantes
contra as quatro décadas do regime linha-dura de Khadafi, em fevereiro de 2011,
ela viajou ao Cairo e a Paris para fazer campanha contra o coronel e para
ajudar a organizar o envio de comida e suprimentos médicos aos rebeldes.
Após a queda do governo
pelos rebeldes, em agosto, ela retornou à Líbia para fazer campanha pelos
direitos das mulheres - principalmente por leis de igualdade para a nova Constituição
que seria redigida.
Como outros ativistas,
Magdulien estava preocupada com o que parecia ser a crescente influência de
fundamentalistas islâmicos no país.
Causou temores, por exemplo,
o discurso de outubro de 2011 de Mustafa Abdul Jalil - líder do Conselho
Nacional de Transição e a face mais internacionalmente conhecida da revolução
antiKhadafi - quando ele propôs que ficasse mais fácil para que homens líbios
tivessem mais de uma esposa.
'Não
foi por isso que fizemos a revolução'
"Foi um choque para
nós. Não foi por isso que fizemos a revolução - não para que homens pudessem se
casar com quatro mulheres", diz Magdulien. "Queríamos mais direitos,
e não a destruição dos direitos de metade da sociedade."
Em meados deste ano, em
visita à cidade líbia de Benghazi, um dos principais focos do levante contra
Khadafi, Magdulien foi detida duas vezes por integrantes de uma poderosa
milícia formada para combater o coronel líbio, mas que, mesmo após a morte
deste, se manteve ativa e com um forte viés islâmico.
Magdulien estava em Benghazi
para participar de uma conferência de mulheres, que foi interrompida por homens
armados. Mais tarde, milicianos a prenderam em seu quarto de hotel. Ela foi
solta, mas detida novamente no dia seguinte e mantida presa em uma base da
milícia.
"Um homem chegou e
começou a me chutar e me bater com sua arma", relembra. "Ele dizia:
'Vou te matar e te enterrar aqui, e ninguém vai saber'. Ele me chamava de espiã
para Israel, de prostituta e vadia. Pensei que fosse morrer."
Depois de ferida, ela acabou
sendo solta, mas seguiu sendo acusada de espionar para Israel, algo que nega
veementemente. Temendo ser morta caso fosse detida novamente, Magdulien decidiu
fugir para a Grã-Bretanha em setembro.
País
sem lei
A Anistia Internacional, que
ajudou Magdulien em seu pedido de asilo ao governo britânico, acredita que o
caso coloca em evidência que a nova Líbia virou um país sem lei.
Liberdade das milícias
tornou país 'terra sem lei' e
desencadeou protestos como o
acima
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"O caso é emblemático
do comportamento que observamos desde a queda do regime (de Khadafi)",
conta Diana el-Tahawy, pesquisadora da Anistia no norte da África.
"Milícias armadas estão totalmente fora de controle. Há centenas deles
pelo país, prendendo pessoas sem mandados e mantendo-as em isolamento,
torturando-as."
Segundo ela, há relatos de
pessoas morrendo sob tortura. "Na última vez que estive na Líbia, em
setembro, em apenas um dia conversei com três famílias cujos membros morreram
em um centro de detenção após serem torturados."
Enquanto isso prossegue,
"o governo não quer ou não consegue coibi-las".
Em setembro, uma multidão
irada avançou contra bases de milícias em Benghazi, exigindo o fim de sua
atuação fora da lei. Isso aconteceu depois de milicianos terem sido acusados de
envolvimento no ataque contra o consulado dos EUA na cidade e no assassinato do
embaixador Chris Stevens.
Agora, o recém-empossado
governo líbio promete controlá-las. O novo ministro da Justiça, Salah Marghani,
ex-advogado de direitos humanos, disse à BBC que é preciso "pôr fim aos
abusos imediatamente, especialmente em prisões e centros de detenção líbios".
Preocupação
internacional
Magdulien foi detida
enquanto participava de uma
conferência de direitos
femininos
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Países como a Grã-Bretanha,
que gastaram milhões de dólares na operação militar que ajudou a derrubar
Khadafi, veem com preocupação os abusos de direitos humanos observados na
Líbia. Mas destacam o progresso do país rumo à democracia, incluindo a
realização de suas primeiras eleições livres, em meados do ano.
"Estamos preocupados,
mas estamos trabalhando com um governo que também está preocupado com
isso", disse ao programa Newsnight, da BBC, Alistair Burt, da Chancelaria
britânica.
"Estamos investindo em
projetos para formar pessoas capazes de entender o princípio dos direitos
humanos. Tentamos dar ajuda estratégica e trabalhamos com pessoas que
reconhecem que, apesar dos progressos, claramente há muitos desafios após 40
anos (de regime)."
Apesar desse cenário, as
mulheres líbias estão avançando mais do que sob a era Khadafi, opina a ativista
Sara Maziq, do grupo Women 4 Libya, baseado em Londres.
"Há 33 mulheres no
Congresso, duas ministras no gabinete", diz ela. "Em uma sociedade
conservadora como a Líbia, isso parece um milagre."
Mas Magdulien discorda. Ela
pretende continuar seu ativismo a partir da Grã-Bretanha, porque acha que, se
voltar à Líbia, não receberá uma segunda chance das milícias. "Se eles me
pegarem novamente, tenho certeza de que não vão me soltar."
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