Talidomida ainda é usada hoje
para o tratamento de
lepra e de mieloma múltiplo,
um tipo de câncer
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Estudos recentes indicam que a droga talidomida
pode ter causado uma gama mais ampla de más-formações do que se imaginava.
Como resultado, em vários países, indivíduos que
nasceram com deficiências físicas e tiveram recusados seus pedidos de
indenização estão agora exigindo que seus casos sejam reconsiderados.
Criada pela companhia farmacêutica alemã
Grunenthal, a talidomida começou a ser vendida em 1957, inicialmente como um
sedativo leve. Depois, passou a ser receitada a mulheres grávidas, para
combater o enjoo.
Em 1961, já havia ficado claro que o remédio
estava levando ao nascimento de bebês com problemas de formação graves, como o
encurtamento de braços e pernas. Ainda em 1961, a droga foi retirada do mercado
em vários países.
Segundo números oficiais, cerca de 10 mil
pessoas em todo o mundo nasceram com más-formações provocadas pela talidomida.
Acredita-se que muitas mortes ocorreram ainda no útero.
Hoje, a talidomida ainda é utilizada para tratar
a hanseníase (lepra) e o mieloma múltiplo (um tipo de câncer).
No Brasil - segundo país do mundo em casos de
hanseníase, superado apenas pela Índia - milhões de comprimidos da droga são
consumidos por milhares de pacientes. Recentemente, um estudo brasileiro
vinculou 100 casos de bebês nascidos com deformidades à ingestão de talidomida.
Nova Pesquisa
Em 1973, na Grã-Bretanha, após longas batalhes
em tribunais, os distribuidores britânicos da Talidomida - a empresa Distillers
- concordaram em compensar financeiramente as vítimas.
O Thalidomide Trust foi criado e mais de 400
crianças foram beneficiadas.
No entanto, os critérios para a determinação dos
casos que se qualificam para receber indenizações são, na opinião de alguns,
inapropriados.
Muitos indivíduos que nasceram com deformidades,
mas foram excluídos do grupo que recebe ajuda financeira para conviver com suas
deficiências acompanham com atenção os estudos do pesquisador Neil Vergesson,
da University of Aberdeen, Escócia.
Vergesson vem observando os efeitos da
talidomida no desenvolvimento de embriões de pintinhos e peixes.
No passado, o especialista escreveu relatórios
para advogados que representavam alguns dos pacientes excluídos da lista
oficial de vítimas.
Na década de 1960, especialistas decidiram que
os fetos eram afetados pela droga durante um período muito curto da gestação -
entre o vigésimo e o trigésimo-sexto dia após a concepção.
Vargesson questiona essa teoria. E afirma também
que a droga afeta indivíduos de maneiras diferentes.
"Esse intervalo de tempo (durante o qual o
feto seria sensível à droga) foi baseado em entrevistas com pais de crianças
seriamente afetadas e está relacionado a danos externos e danos internos
graves", disse.
E acrescentou: "Tendo em vista a
diversidade dos danos em sobreviventes da talidomida e estudos em animais que
mostram que em uma mesma ninhada cada feto é danificado de forma diferente,
está claro para mim que a droga age de maneira diferente em cada indivíduo e
embrião".
Para Vergesson, é possível que a talidomida
provoque uma gama mais ampla de danos do que se imaginava.
No entanto, ele admite que é difícil saber com
exatidão que danos são esses.
"Jamais saberemos a gama verdadeira (de
efeitos da droga), é tão difícil voltar 55 anos e dizer, bem, vamos dar uma
olhada nessas pessoas, porque na maioria dos casos, nem sabemos quem são essas
pessoas".
O trabalho de Vergesson é polêmico e há
especialistas que discordam de suas conclusões.
Para alguns, porém, as pesquisas do especialista
oferecem alguma possibilidade de justiça.
Injustiça?
O britânico Gary Grayson
nasceu com deformidades
graves nas pernas
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O britânico Gary Grayson, da cidade inglesa de
Ipswich, nasceu em 1961. Suas pernas tinham deformidades graves e foram
amputadas antes de ele completar dois anos de idade.
Poucos meses depois, ele passou a usar pernas
artificiais.
A mãe de Grayson tomou talidomida, mas ele nunca
recebeu qualquer indenização.
Médicos do Thalidomide Trust disseram que as
deformidades que Grayson apresentava não eram típicas da talidomida.
Ele não deixou que a deficiência atrasasse seu
desenvolvimento e se saía bem na escola. Hoje, casado e pai de família,
trabalha no Ministério da Defesa britânico.
"Na minha juventude, nunca me considerei
uma vítima".
Mas agora, depois de investigar mais a fundo seu
próprio histórico médico, ele acha que tem provas suficientes para brigar na
Justiça por uma indenização.
Indenizações
Várias firmas de advocacia vêm cuidando do caso
de Grayson e de outras supostas vítimas - muitas delas britânicas. O grupo se
autodenomina Thalidomiders.
Em outros países, há mais processos estão em
andamento.
Na Espanha, 185 pessoas estão levando o
fabricante alemão Grunenthal para o tribunal. Elas nunca receberam qualquer
indenização da empresa.
No ano passado, na Austrália, os distribuidores
da droga concordaram em indenizar uma vítima, Lynette Rowe, de 50 anos. Mais
casos são esperados ainda neste ano.
No Brasil, vítimas da talidomida ganharam
direito a indenizações pelo governo brasileiro em 2010. O governo foi
responsabilizado porque, ao contrário de outros países, que retiraram a droga
de circulação em 1961, o Brasil só suspendeu o uso do medicamento quatro anos
depois.
Segundo estimativas de 2010, 650 brasileiros se
qualificavam para receber compensação financeira.
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