Candidato a presidência Eduardo Campos. *1965 -2014+ |
Um barulho de ensurdecedor
de turbinas de avião seguido por uma explosão de grandes proporções, poeira e
muita fumaça. É assim que os moradores do bairro do Boqueirão em Santos, no
litoral paulista, descrevem o acidente aéreo que matou o candidato à
Presidência Eduardo Campos e membros de sua equipe de campanha na manhã da
quarta-feira.
Segundo a polícia, além de
Campos outras seis pessoas que estavam na aeronave morreram. A explosão atingiu
ao menos 16 imóveis e deixou quatro feridos em solo.
Enquanto bombeiros e
policiais passavam o dia trabalhando em busca de restos de corpos de vítimas,
centenas de moradores saíam às ruas no local da queda do avião para tentar
entender o que estava acontecendo e oferecer alguma ajuda caso fosse
necessário. Impressionados com o acidente, eles descreviam o que tinham visto
ainda em choque e se solidarizavam com os vizinhos mais afetados com a
tragédia.
Polícia Civil diz que evidências mostram
que avião explodiu ao colidir com o solo
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O protagonista de uma dessas
histórias foi Vinícius Lopez, dono de uma escola de inglês próxima ao local do
acidente. Ao ouvirem a explosão e sentirem o cheiro do querosene queimando, ele
e um amigo correram para fora do prédio e foram ajudar duas mulheres que
estavam presas em uma das casas atingidas.
"Eu estava na escola e
ouvi um barulho muito forte, como a passagem de um avião. Então eu corri para fora
e pulei o muro para ajudar duas senhoras que estavam em uma casa", disse à
BBC Brasil. Após tirar as duas do local, ele parou para reparar nos escombros e
resume o que viu: "cenas de destruição".
"Estava tudo destruído,
um buraco enorme, fogo por tudo quanto é lado, nas janelas e na casa dos
fundos. Tudo completamente destruído. A gente tirou as pessoas de lá e também
saiu para ficar todo mundo em segurança", afirmou.
Moradores do Boqueirão ajudaram a
socorrer pessoas presas em imóveis
atingidos por avião
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Julia Nagamine conta que era
sua irmã e mãe que estavam na casa e que, por uma diferença de 20 minutos, ela
mesma não viveu a explosão de perto. A irmã dela chegou a sofrer ferimentos
leves nas costas, mas passa bem. A mãe saiu ilesa.
"Eu tinha saído de lá
pra comprar umas coisas, quando vi o que aconteceu, eu liguei pro Vinícius, ele
me disse que elas já estavam a salvo e eu corri pra cá. Vendo a casa assim de
frente, parece que não aconteceu nada, mas lá no fundo está irreconhecível,
destruiu tudo”, descreveu.
Mesmo horas após o impacto
do acidente, Vinícius Lopez ainda se mostrava em choque com o que estava vendo,
especialmente após a morte do candidato Eduardo Campos ter sido confirmada. “Eu
vi o Eduardo Campos dar uma entrevista um dia antes, ele estava lá tão bem e de
repente acontece tudo isso aqui do lado da gente.”
Estragos
Ao menos 50 pessoas tiveram
que deixar suas casas devido ao acidente. Os 16 imóveis que foram atingidos com
destroços do acidente foram interditados, e a energia chegou a ser cortada em
todo o quarteirão ao longo do dia, só sendo reestabelecida nas casas onde não
estão sendo realizadas as buscas por volta de 20h.
Lourdes Rinaldi, que é
vizinha das casas mais atingidas com o acidente, conta que passou o dia
"sem rumo", buscando informações e checando se os vizinhos estavam
bem. Ela diz que achou que a explosão estava acontecendo em sua própria
residência, tamanho o impacto dela.
"Eu estava na cozinha,
pensei que tivesse explodido o gás, o barulho foi muito forte, parecia aqui
dentro. O vidro do meu banheiro quebrou, a porta da minha sala quebrou, até um
pedaço do telhado caiu”, contou dona Lourdes, que foi à casa de um vizinho que
teve estragos ainda maiores.
"A parte de trás da
casa do sr. Jean danificou muito, a cozinha ficou toda quebrada, na parte da
piscina detonou, não dá nem pra ver a água nela, tá tudo coberto. Tem até uma
guarnição do avião ali dentro.”
Outra moradora da região, a
jovem de 22 anos, Beatriz Regina, estava se arrumando para ir trabalhar quando
sentiu o estrondo da explosão do avião e não pode conter o desespero. Ela disse
que a queda do jatinho provocou uma ventania e a grande quantidade de fumaça e
fogo deixou os moradores do quarteirão em pânico.
"Eu estava me vestindo
e aí começou a bater um vento muito forte, mas na verdade era a pressão do ar.
Eu vi as pessoas correndo, alguns iam em direção ao local do acidente falando
que um avião tinha caído, mas na hora você não acredita".
"Tinha uma fumaça forte
e preta, o cheiro de queimado, tinha muitos estilhaços, até uma peça com uma
pequena identificação da aeronave. Na hora eu senti medo você fica com medo de
explodir alguma coisa a mais", conta. "As pessoas estavam assustadas,
algumas até passando mal, principalmente idosos."
Cenário
chocante
Moradores relataram cenas de pânico
e correria em meio a explosão e fumaça
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O capitão dos Bombeiros,
Mauro Palumbo, explica que a intensidade da explosão fez com que o estrago
atingisse áreas enormes, dificultando a busca. "A gente mal consegue
encontrar pedaços concretos do avião, não dá nem pra reconhecer os fragmentos,
porque são muito pequenos e se espalharam por todo o lugar".
Centenas de pessoas estão
envolvidas nas buscas, incluindo 45 bombeiros e outras dezenas de policiais
militares e federais, além de membros da aeronáutica e outros peritos.
As cenas de destruição da
tragédia, segundo o diretor do Deinter 6, da Polícia Civil de Santos, Aldo
Galiano Jr., são muito impactantes. "É realmente muito chocante ver a
situação. Um cenário muito triste", falou à BBC Brasil.
Ele conta que um parente de Eduardo
Campos chegou a ir até a prefeitura de Santos na tarde da quarta-feira e pediu
para ser levado para o local do acidente. "Nós felizmente o convencemos a
desistir. Tanto ele quanto familiares dos dois fotógrafos também queriam vir e
nós explicamos que seria muito impactante mesmo."
Ainda de acordo com Galiano
Jr., cerca de 90% dos restos mortais das vítimas já foram encontrados até a
noite desta quarta. O secretário de Segurança Pública Fernando Grella afirmou
que o processo de identificação das vítimas já está sendo feita no Instituto
Médico Legal de São Paulo, principalmente por meio de exames de arcadas
dentárias.
"Em alguns casos vai
ser necessário o (uso de exames de) DNA, que já foram pedidos", afirmou.
Explosão no solo
O clima estava nublado e
chuvoso na hora do acidente, mas ainda não é possível saber quais foram as
causas da queda da aeronave.
Segundo Galiano, há fortes
indícios de que o jato tenha explodido ao se chocar contra o solo, e não
durante o voo, principalmente levando em consideração a distância que os
destroços percorreram. Mais cedo, testemunhas haviam dito que o avião estaria
em chamas ainda em voo.
"A gente acredita que o
avião só explodiu quando estava no solo, até porque dá para saber que o piloto
estava consciente no momento que tentava encontrar uma área aberta para pousar
sem fazer grandes estragos. Ele foi heroico, desviou o avião e ele só caiu
nessa área que é um quintal e tem um bambuzal do lado. O estrago poderia ter
sido bem maior", explicou o delegado.
Ele praticamente descartou a
hipótese de atentado e disse que as maiores probabilidades de causa para o
acidente são falha humana ou técnica. "A aeronáutica já está com as duas
caixas pretas e vai poder esclarecer isso em breve."
A investigação sobre as
causas do acidente estão sendo lideradas por peritos da Força Aérea. Além
disso, um inquérito foi aberto pela polícia para apurar se houve imperícia ou
negligência de pessoas envolvidas no caso. Apesar do mau tempo em Santos –
choveu muito durante toda a quarta-feira -, as buscas não pararam no local e a
expectativa da Policia Civil é que elas terminem até à tarde desta quinta. (BBCBRASIL)
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