Pela terceira vez em menos de 60 dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez apelo à sociedade para que ajude a defender a estabilidade da economia. Mais uma vez o ministro reitera que o governo está vigilante com relação ao comportamento dos preços. E, de novo, o ministro ameaça; “se houver alguma irregularidade, tomaremos providências”. No caso seria a importação. Tal recado nem deve ser visto como ameaça porque o governo não tem o que fazer diante das oscilações de preços já que o fenômeno é resultado das acomodações do mercado.
O pronunciamento do ministro é um erro estratégico. Cada vez que a autoridade aborda o assunto está sugerindo que os técnicos constataram focos de reação de preços. Ou um risco de descontrole generalizado, manifestado por meio de remarcação, por exemplo. Se os riscos são inofensivas bolhas de consumo localizadas, nada de mais grave. Já no caso de um iminente descontrole, o governo tem que se posicionar rapidamente.
Nesse caso vai lançar mão do aumento das taxas de juros, restrições de crédito e redução de tarifas de importação.
O fato é que tais apelos são um tiro no pé. Têm efeito contrario. Só servem para alimentar a cultura dos econômicos, segundo a qual a coisa funciona da seguinte forma: se o governo diz que não haverá reajustes então, previnam-se, porque isto fatalmente vai acontecer.
Sobre ameaças de importação, que ninguém se iluda. A contratação de alimentos ou bens duráveis é algo que demora muito. Exemplo? O governo e o próprio mercado não têm a mobilidade necessária para importar cereais e contrapor alta de preços internos. Achar que empresas serão incentivadas a importar arroz para combater aumento do produto interno não funciona. A chegada do produto levará pelo menos 15 dias.
Além disso, o empresário brasileiro está habituado a enfrentar produtos da China com baixas taxas de importação e uma mercadoria de baixo custo na origem, a começar pela mão de obra baratíssima e muito explorada.
Alta de preços se combate com aumento de produção. Se quiser enfrentar esse desafio o governo que trate de adotar políticas democráticas de fomentos e desoneração da economia. Com oferta, os preços caem. E Guido não precisa ameaçar.
João Bourbon - Falando Francamente
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