Arturo Wallace
Da BBC Mundo em
Bogotá
De acordo com
algumas versões, a "roleta sexual" seria praticada em boates ao som
de reggaeton
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Embora seja foco de
atenção da imprensa da Colômbia há mais de uma semana, a suposta prática da
"roleta sexual", na qual jovens participariam de jogos eróticos
envolvendo relações grupais, ainda é algo sobre o que pouco se sabe com
certeza.
De acordo com o tom
da cobertura sobre o assunto no país, a “roleta” teria se tornado moda entre
jovens de várias cidades do país, a ponto de ter alarmado as autoridades.
A maneira como o
tema vem sendo tratado, no entanto, provavelmente diz mais a respeito aos
temores da sociedade e à dinâmica dos meios de comunicação do que sobre os
jovens colombianos.
Os relatos indicam
que as regras do jogo incluem seguidas penetrações e colocam à prova a
resistência dos homens.
A história teve
início, sem dúvida, com um depoimento que parece ter sido tomado como verdade,
sem questionamentos: o de uma menina de 14 anos que afirma ter engravidado após
jogar a "roleta sexual".
"Não pensei
que poderia engravidar, porque não era muito tempo, era só um jogo", teria
dito a menor ao ADN, um jornal gratuito que circula em Medellín.
No mesmo artigo, o
jornal também divulgou declarações de uma funcionária da Secretaria de Saúde reconhecendo
que, nos relatos de jovens grávidas, cada vez mais se fala de "relações
sexuais grupais, que em sua maioria são indiscriminadas e sem a devida
proteção".
A partir daí o
assunto saiu de controle, porque os meios de comunicação colombianos não parecem
interessados em determinar se o que está em questão são casos isolados ou uma
prática generalizada, nem se este comportamento de risco sempre é de fato uma
"roleta sexual".
Declarações
Na busca por
depoimentos que confirmem a popularidade do jogo, a imprensa também começou a
oferecer como prova o que não passa de boato.
Uma emissora local,
por exemplo, não hesitou em apresentar como testemunha da prática a tia de uma
jovem "que confessou ter participado na chamada roleta sexual", mesmo
que na entrevista, repleta de inconsistências, a tia admita que a sobrinha não
tenha confessado e reconheça que "as meninas não falam" – o que, no
entanto, não a impede de oferecer inúmeros detalhes sobre o jogo em questão.
E para dar ainda
mais solidez às afirmações, a maioria dos meios de comunicação também
reproduziram declarações da diretora encarregada do Instituto Colombiano do
Bem-Estar Familiar (ICBF), que dão a entender que a instituição confirmou
gestações produzidas pela prática da "roleta", "inclusive em
Bogotá e Cali".
A diretora
encarregada do ICBF se chama Adriana González. E toda a imprensa, inclusive de
fora da Colômbia, a identificou como Adriana Monsalve, o que sugere que as
declarações vieram de uma mesma fonte.
Questionada pela
BBC Mundo, González explicou que o que o ICBF pôde comprovar é que havia jovens
que diziam terem escutado falar sobre o jogo, e isso em um bairro de Bogotá. Em
outras palavras, o que se pôde confirmar era a existência do boato.
Lenda urbana?
Para Carlos Mario
Ramírez, vice-secretário de Saúde, Inclusão Social e Família de Medelín, cidade
onde se originou a história, quase tudo o que se tem dito e escrito sobre o
assunto até agora está baseado em rumores sem confirmação.
Segundo ele, o ADN
"divulgou o caso e disse que a Secretaria de Saúde o havia confirmado. Mas
nós verificamos e nunca houve uma declaração (da secretaria)".
Ramírez diz que a
ideia de que a “roleta sexual” estaria gerando um aumento no número de
gestações de adolescentes na cidade também é contrariada pelas últimas
estatísticas à disposição.
Obviamente, tudo
isso não significa que o jogo não seja praticado por alguns jovens colombianos.
Mas, como disse à
BBC Mundo o especialista mexicano Francisco Cortázar, muitas "lendas urbanas"
também têm algo de verdade. E esta não é a única característica deste tipo de
relatos que parece se aplicar às histórias sobre a "roleta sexual".
"Em geral, as
lendas urbanas costumam ser relatadas como se tivessem ocorrido com alguém
próximo", disse Cortázar, professor de Estudos Sócio-Urbanos da
Universidade de Guadalajara.
"E
fundamentalmente são histórias moralistas. Funcionam como histórias exemplares
de que é o que pode acontecer se a pessoa não se comportar de forma adequada;
transmitem medos, temores, fantasias, anseios, tabus."
"Mas ainda que
a sexualidade seja um tema de preocupação legítima, também ocorrem muitos
exageros, muitas fantasias. E muitos dos comportamentos que acreditamos que os
jovens têm não são tão disseminados. Pode ser que existam em alguns casos, que
são irrelevantes. Mas ter conhecimento de apenas um é suficiente para desatar
um temor generalizado na sociedade", explica Cortázar.
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